quarta-feira, 27 de março de 2013

Ambiente de festa em Vale do Paraíso



O Colóquio foi inserido no programa mais geral de celebrações em Vale do Paraíso, as quais decorreram nos dias 8, 9 e 10 de Março, assinalando o encontro entre D. João II e Cristóvão Colon naquela localidade, nesse ano de 1493.
Na mesa estiveram o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Azambuja, a Conferencista Profª Doutora Manuela Mendonça, Presidente da Academia Portuguesa da História, o Engº Carlos Calado, Presidente da ACC, que dirigiu a sessão, o Dr. José Machado Pereira, da Câmara Municipal de Azambuja e responsável pelo espaço expositivo da Casa Colombo, e ainda a Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Cuba, a convite da organização local.


O ambiente era de festa no exterior onde decorria uma feira medieval e o Colóquio iniciou-se após o desfile comemorativo da chegada de Colon a Vale do Paraíso.
 
O Salão Nobre da Junta de Freguesia, onde acabou por ter lugar o Colóquio foi, mesmo assim, insuficiente para poder sentar a quase centena de pessoas que pretendiam assistir, ficando algumas de pé. Os menos afortunados não conseguiram passar da ombreira da porta.  


As palavras da Profª Doutora Manuela Mendonça foram essencialmente no sentido de realçar a importância do encontro entre o Rei e Cristóvão Colon e do seu enorme significado não só para a localidade, não só para Portugal, não só para a Península, mas efectivamente para todo o Mundo.


Daquilo que D. João II ficou a saber pelo relato de Colon veio a resultar a decisão do Rei enviar de imediato uma embaixada aos Reis Católicos para reclamar para Portugal a posse daquelas terras, porque elas se situavam abaixo do paralelo das Canárias, linha que dividia as zonas de influência portuguesa e castelhana.




Dos acontecimentos subsequentes, como as Bulas Papais, veio a chegar-se à assinatura do Tratado de Tordesilhas, que alterou a anterior forma de divisão, passando esta a ser delimitada por um meridiano em contraposição ao paralelo anterior. Vale do Paraíso ficou assim indelevelmente associada a um dos factos mais marcantes da história mundial.

Daquilo que se passou no encontro entre D. João II e Cristóvão Colon temos relatos bastante divergentes, pois o próprio Colon descreve o encontro como muito amistoso, com o Rei a permitir-lhe que lhe falasse com o barrete na cabeça e mandando-o sentar, enquanto os cronistas portugueses descrevem que o ambiente era bem mais hostil.
O objectivo de D. João II seria o de obter o máximo de informações sobre as terras encontradas, que D. João já saberia que existiam, mas não sabia exactamente onde.
Colon tinha fugido para Castela na sequência dos atentados contra D. João II, não porque tivesse estado muito envolvido, mas mais provavelmente por receio, visto que seria um navegador pertencente à Casa de Viseu / Beja.
Colon tinha ficado com receio das justiças do Rei, como o demonstra a carta (se é que existiu) que lhe terá servido de salvo-conduto para vir a Portugal em 1488, e que é claramente uma resposta a um pedido enviado por Colon.
Durante a sua conferência e no período de debate, a Profª Doutora Manuela Mendonça voltou a manifestar a convicção de que Cristóvão Colon ou nasceu em Portugal ou veio para cá muito novo.
A uma pergunta sobre o motivo de Colon ter divulgado a D. João II onde se localizavam as terras onde chegara mas o omitir aos Reis Católicos, a Profª Manuela Mendonça respondeu que provavelmente Colon queria reservar para si próprio essa informação, que seria para si um trunfo.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Debate aceso no Palácio da Independência



Presidida pelo Sr. General Alexandre de Sousa Pinto, Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM), que tem a sua sede no Palácio da Independência, o colóquio do dia 7 de Março decorreu na sala D. Antão Vaz de Almada perante uma assistência de cerca de 50 pessoas.


 Antes das conferências usou da palavra o Engº Carlos Calado para fazer uma brevíssima apresentação do que é a Associação Cristóvão Colon, da qual é presidente.







O primeiro conferencista foi o Sr. Coronel Prof. Rui Carita, da CPHM, com o tema intitulado «Cristóvão Colombo e a Madeira – antecedentes e consequências da primeira viagem às Antilhas em 1492»

Num estilo coloquial que oscilou entre o irónico e o sério, o Coronel Prof. Rui Carita começou por mostrar vários retratos que pretenderam representar Colombo, destacando o mais conhecido e famoso, existente no Metropolitan Art Museum de Nova Iorque, e pintado por Sebastiano del Piombo. Depois mostrou imagens de diversos locais onde se assinala a presença de Colombo, sem que, no entanto, o navegador alguma vez lá tenha estado. Estão nesta situação, por exemplo, a Casa de Colón em Valladolid, onde pretensamente Colón teria morrido, e em Portugal, a chamada Casa do Esmeraldo no Funchal, da qual resta uma janela, actualmente deslocada para uma quinta e a Casa de Colombo em Porto Santo: ironicamente, a Casa do Esmeraldo é de construção posterior à época do navegador e não há qualquer prova de que ele alguma vez tenha vivido em Porto Santo.
Referiu-se a vários monumentos erigidos em honra e memória de Colon, entre os quais um em Galway, na Irlanda, onde o navegador teria passado em 1477 numa viagem comercial às Ilhas Britânicas. Mostrou fotos de estátuas no Funchal e na Ilha de Santa Maria.
Durante a sua conferência, o orador destacou que Colombo especificou, ele próprio, ser um cidadão de Génova, numa afirmação taxativa que consta no Documento Asseretto.
Sobre as consequências da primeira viagem, o orador destacou que, imediatamente após o regresso de Colombo, o Rei D. João II mandou fortificar o porto do Funchal.


A conferência do Dr. João Abel da Fonseca (Academia Portuguesa da História) decorreu em estilo bastante animado, tendo o orador manifestado, por mais do que uma vez, que não vinha trazer nada de novo, nada que a maioria dos presentes não conhecesse já – o que vinha trazer ao tema era o seu entusiasmo!
Com o título “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és – a propósito dos encontros de Cristóvão Colon», o orador foi estabelecendo uma teia de ligações familiares entre Cristóvão Colon e a nobreza portuguesa, por via do seu casamento com Filipa Moniz Perestrelo, filha de Bartolomeu Perestrelo e Isabel Moniz, bem como ligações dos seus apoiantes com a mais alta nobreza, nomeadamente com a família Bragança, das quais resultaram, mais tarde, laços matrimoniais entre a família Colón e a família Bragança.
Quando veio a Portugal, na viagem de regresso, Cristóvão Colon foi acompanhado até Vale do Paraíso, para o encontro com o Rei D. João II, por D. Martinho de Noronha, descendente do Bispo de Lisboa, o qual teve filhos com Isabel Perestrelo e com Branca Perestrelo, irmãs de Bartolomeu Perestrelo, e portanto tias da mulher de Colon.
 Nesta sua conversa, a que infelizmente faltaram imagens com os quadros genealógicos, o que teria possibilitado a sua imediata percepção, o orador referiu, por mais do que uma vez, ligações que ascendiam até Dª Inês de Castro.


Antes do período de debate, o Ten. Coronel Brandão Ferreira,  da Comissão Executiva do ciclo comemorativo colocou em destaque a sua concretização e os objectivos do mesmo.





O período de debate foi bastante aceso, principalmente pela polémica em torno da afirmação do Coronel Prof. Rui Carita, de que era um cidadão de Génova.
O primeiro dos intervenientes pelo público começou por perguntar se o Prof. Rui Carita não achava estranho que, afirmando-se Colombo como um cidadão de Génova (tal como referido na palestra), não tivesse atribuído um único topónimo italiano no Novo Mundo, e antes tivesse atribuído dezenas de nomes portugueses nos locais descobertos. O Prof. Rui Carita respondeu que achava estranho, mas não tinha explicação para o facto.
Um outro dos intervenientes começou por referir-se ao quadro do Metropolitan Art Museum destacando que o Museu pagara por ele 20 milhões de dólares por representar Colombo, mas que, afinal, já se concluíra que não fora pintado por Del Piombo, o qual, aliás, nem conhecera o navegador, a legenda com o nome tinha sido acrescentada posteriormente e o retratado era um clérigo italiano. Em suma, um logro completo, tal como a história do Colombo genovês.
Sobre o Documento Asseretto, o mesmo interveniente destacou que é um papel cada vez mais contestado, tratando-se de um pretenso documento judicial, mas escrito com três diferentes tipos de letra, em dois textos distintos que foram juntos como se de um só se tratasse.
Um outro interveniente questionou directamente o conferencista se ele conhecia realmente o Documento Asseretto ou se apenas se limitava a repetir o que tinha lido ou ouvido. Concluiu-se que o orador se limitara a repetir o que ouvira, o que lhe mereceu acesas críticas da audiência. O conferencista Dr. João Abel da Fonseca criticou também o Documento Asseretto, destacando que são várias folhas que teriam estado cosidas entre si, mas que existem muitas páginas em branco entre elas, e que incrivelmente, há texto escrito por cima do espaço onde estaria o cordel que as cosia, sinal ineludível de que é um “documento” sem qualquer credibilidade.

domingo, 3 de março de 2013

Cascais - abrigo de Colon

Decorreu esta tarde o primeiro Colóquio do ciclo de conferências para assinalar o 520º aniversário da viagem de regresso, sob o título "Novo Mundo e Mundo Novo -  Cristóvão Colon em Portugal - Março de 1493"
 Não podia ter sido mais apropriado o local escolhido pela Câmara Municipal de Cascais para acolher esta sessão - O Museu do Mar Rei D. Carlos, cuja plateia se encheu com cerca de 100 interessados no tema.
Sobre a mesa, uma pequena réplica (pertencente ao Centro Cristóvão Colon, na vila de Cuba) da caravela Niña. Caravela na qual Colon chegou a Cascais na sua viagem de regresso da descoberta.



A Câmara Municipal de Cascais esteve representada pela Srª Directora de Divisão dos Patrimónios Culturais, Drª Paula Cabral, que abriu a sessão dando as boas-vindas às entidades organizadoras e ao imenso público, com quase 110 pessoas que encheram a ampla sala
Dirigiu a sessão, com grande brilhantismo, o Sr. Prof. Doutor Carlos Margaça Veiga, membro da Direcção da Academia Portuguesa da História
O Comandante José Manuel Malhão Pereira, da Academia de Marinha, apresentando a sua comunicação (auxiliado pelo Ten. Coronel Brandão Ferreira comandando as imagens)


O Comandante Malhão Pereira começou por mostrar como podia uma embarcação do século XV navegar seguindo os diferentes rumos relativamente a qualquer direcção do vento.
De seguida abordou a primeira viagem de Cristóvão Colon, mostrando que tinha sido realizada seguindo o regime geral dos ventos no Atlântico, os quais têm, grosso modo, uma rotação no sentido dos ponteiros do relógio em torno da zona do anticiclone dos Açores. Assim, o percurso entre a Península e as Antilhas consegue ventos favoráveis partindo das Canárias ou de Cabo Verde, ao passo que a viagem de regresso deve realizar-se por um percurso mais a norte, passando pelos Açores.
Os navegadores portugueses já há muito que percorriam grandes distâncias em alto mar, sem avistar terra, no regresso de Cabo Verde ou da Mina. Aliás, as distâncias percorridas nestas voltas são bem maiores que a distância percorrida por Cristóvão Colon entre as Canárias e as Antilhas. Das Canárias às Antilhas são cerca de 3000 milhas, ao passo que a volta da Mina, até aos Açores, são 4800 milhas (sendo cerca de 4000 milhas a distância da volta de Cabo Verde)
É portanto totalmente falacioso afirmar que os portugueses apenas navegavam à vista de terra.

Cristóvão Colon conhecia muito bem o regime de ventos no Atlântico, fruto de anteriores viagens nos navios portugueses dos descobrimentos, e os seus vastíssimos conhecimentos de navegação foram adquiridos com os portugueses.
Cristóvão Colon era um navegador de formação portuguesa.





O Dr. Severino Rodrigues, da Câmara Municipal de Cascais, ofereceu à assistência uma magnífica reconstituição vídeo da aproximação de Cristóvão Colon a Cascais, com o avistamento do Cabo da Roca e depois de toda a linha de costa (expurgada de construções) até chegar à zona da praia, onde fundeou.

Cascais era, na época, um aglomerado de habitações protegido pelas muralhas do castelo e a entrada era defendida pela Torre de Santo António (provavelmente ainda não concluída), que fora mandada erguer por D. João II em 1488. Desta Torre de Santo António, que foi depois integrada na Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, a qual, por sua vez, foi depois integrada na Fortaleza da Cidadela, podem ainda ver-se alguns vestígios, sendo o principal a parede exterior virada ao mar, visível a partir da nova marina.



O Dr. Severino Rodrigues, profundo conhecedor dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos em Cascais, mostrou ainda como vivia a população na época.





O Engº Carlos Calado apresentou um estudo matemático sobre a viagem de Cristóvão Colon entre a Ilha de Santa Maria, nos Açores e Cascais, integralmente baseado nos registos do Diário da Viagem. 
Transferindo para o mapa as distâncias percorridas e respectivos rumos seguidos, confirmou que Cristóvão Colon sabia exactamente, com um erro ínfimo, a posição em que se encontrava no dia 27 de Fevereiro, quando escreveu que estava a 125 léguas do Cabo de São Vicente, 108 léguas de Santa Maria e 80 léguas da ilha da Madeira.
Depois deste dia, a rota seguida por Colon deixou de ser puramente para leste, como seria natural se pretendesse seguir para Palos (Huelva) de onde tinha partido, inflectindo para Leste-Quarta de Nordeste.
Pelo rumo seguido e pelas distâncias percorridas, mostrou, matematicamente, que Cristóvão Colon já se encontrava na zona de Lisboa quando aconteceu a tempestade, no dia 2 de Março.
A conclusão óbvia é que Cristóvão Colon veio para Lisboa porque quis e simultaneamente mentia aos Reis de Castela e Aragão escrevendo-lhes que estava nas Canárias em 15 de Fevereiro e já estava no mar de Castela quando uma tempestade o arrastou para Lisboa.


No período de debate, houve várias perguntas da numerosa assistência.
Sobre a hipótese de Colon não ter fundeado propriamente em Cascais mas em algum outro lugar próximo, o Engº Carlos Calado destacou que o Diário de Colon menciona expressamente Cascais e que, provavelmente, não haveria qualquer outro povoado nas redondezas, no que foi corroborado pelo Dr. Severino Rodrigues, confirmando não ser conhecida a existência de qualquer outro povoado e pelo Comandante Malhão Pereira que confirmou ser a baía de Cascais o único local abrigado que permitia a Colon fundear aqui a sua caravela. Entre Cascais e Lisboa só existia depois a zona do Restelo. Colon não seguiu directamente para Lisboa porque é necessário esperar em Cascais pelas condições favoráveis para seguir até Lisboa. Colon conhecia muito bem essa situação, fruto da sua grande experiência de navegação aqui adquirida.
Sobre o facto de Colon aqui ter chegado, destaque para uma nova explicação do Comandante Malhão Pereira, que mostrou que Cristóvão Colon, saindo de Santa Maria, poderia, com idêntica facilidade, optar entre navegar directamente para Palos ou dirigir-se para Lisboa como fez. Veio para Lisboa por opção.

Desta forma ficou também nauticamente comprovado que Cristóvão Colon não veio para Lisboa devido à tempestade, mas sim porque quis vir para Lisboa.

E este é um facto que pode mudar toda a interpretação da História.