Não podia ter sido mais apropriado o local escolhido pela Câmara Municipal de Cascais para acolher esta sessão - O Museu do Mar Rei D. Carlos, cuja plateia se encheu com cerca de 100 interessados no tema.
Sobre a mesa, uma pequena réplica (pertencente ao Centro Cristóvão Colon, na vila de Cuba) da caravela Niña. Caravela na qual Colon chegou a Cascais na sua viagem de regresso da descoberta.
A Câmara Municipal de Cascais esteve representada pela Srª Directora de Divisão dos Patrimónios Culturais, Drª Paula Cabral, que abriu a sessão dando as boas-vindas às entidades organizadoras e ao imenso público, com quase 110 pessoas que encheram a ampla sala
Dirigiu a sessão, com grande brilhantismo, o Sr. Prof. Doutor Carlos Margaça Veiga, membro da Direcção da Academia Portuguesa da História
O Comandante José Manuel Malhão Pereira, da Academia de Marinha, apresentando a sua comunicação (auxiliado pelo Ten. Coronel Brandão Ferreira comandando as imagens)
O Comandante Malhão Pereira começou por mostrar como podia
uma embarcação do século XV navegar seguindo os diferentes rumos relativamente
a qualquer direcção do vento.
De seguida abordou a
primeira viagem de Cristóvão Colon, mostrando que tinha sido realizada seguindo
o regime geral dos ventos no Atlântico, os quais têm, grosso modo, uma rotação
no sentido dos ponteiros do relógio em torno da zona do anticiclone dos Açores.
Assim, o percurso entre a Península e as Antilhas consegue ventos favoráveis partindo
das Canárias ou de Cabo Verde, ao passo que a viagem de regresso deve
realizar-se por um percurso mais a norte, passando pelos Açores.
Os navegadores
portugueses já há muito que percorriam grandes distâncias em alto mar, sem
avistar terra, no regresso de Cabo Verde ou da Mina. Aliás, as distâncias
percorridas nestas voltas são bem maiores que a distância percorrida por
Cristóvão Colon entre as Canárias e as Antilhas. Das Canárias às Antilhas são
cerca de 3000 milhas, ao passo que a volta da Mina, até aos Açores, são 4800
milhas (sendo cerca de 4000 milhas a distância da volta de Cabo Verde)
É portanto
totalmente falacioso afirmar que os portugueses apenas navegavam à vista de
terra.
Cristóvão Colon
conhecia muito bem o regime de ventos no Atlântico, fruto de anteriores viagens
nos navios portugueses dos descobrimentos, e os seus vastíssimos conhecimentos
de navegação foram adquiridos com os portugueses.
Cristóvão Colon era
um navegador de formação portuguesa.
O Dr. Severino
Rodrigues, da Câmara Municipal de Cascais, ofereceu à assistência uma magnífica
reconstituição vídeo da aproximação de Cristóvão Colon a Cascais, com o
avistamento do Cabo da Roca e depois de toda a linha de costa (expurgada de
construções) até chegar à zona da praia, onde fundeou.
Cascais era, na
época, um aglomerado de habitações protegido pelas muralhas do castelo e a
entrada era defendida pela Torre de Santo António (provavelmente ainda não
concluída), que fora mandada erguer por D. João II em 1488. Desta Torre de
Santo António, que foi depois integrada na Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, a
qual, por sua vez, foi depois integrada na Fortaleza da Cidadela, podem ainda
ver-se alguns vestígios, sendo o principal a parede exterior virada ao mar,
visível a partir da nova marina.
O Dr. Severino
Rodrigues, profundo conhecedor dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos em
Cascais, mostrou ainda como vivia a população na época.
O Engº Carlos Calado
apresentou um estudo matemático sobre a viagem de Cristóvão Colon entre a Ilha
de Santa Maria, nos Açores e Cascais, integralmente baseado nos registos do
Diário da Viagem.
Transferindo para o mapa as distâncias percorridas e
respectivos rumos seguidos, confirmou que Cristóvão Colon sabia exactamente,
com um erro ínfimo, a posição em que se encontrava no dia 27 de Fevereiro,
quando escreveu que estava a 125 léguas do Cabo de São Vicente, 108 léguas de
Santa Maria e 80 léguas da ilha da Madeira.
Depois deste dia, a
rota seguida por Colon deixou de ser puramente para leste, como seria natural
se pretendesse seguir para Palos (Huelva) de onde tinha partido, inflectindo
para Leste-Quarta de Nordeste.
Pelo rumo seguido e
pelas distâncias percorridas, mostrou, matematicamente, que Cristóvão Colon já
se encontrava na zona de Lisboa quando aconteceu a tempestade, no dia 2 de
Março.
A conclusão óbvia é
que Cristóvão Colon veio para Lisboa porque quis e simultaneamente mentia aos
Reis de Castela e Aragão escrevendo-lhes que estava nas Canárias em 15 de
Fevereiro e já estava no mar de Castela quando uma tempestade o arrastou para
Lisboa.
No período de
debate, houve várias perguntas da numerosa assistência.
Sobre a hipótese de
Colon não ter fundeado propriamente em Cascais mas em algum outro lugar
próximo, o Engº Carlos Calado destacou que o Diário de Colon menciona
expressamente Cascais e que, provavelmente, não haveria qualquer outro povoado
nas redondezas, no que foi corroborado pelo Dr. Severino Rodrigues, confirmando
não ser conhecida a existência de qualquer outro povoado e pelo Comandante
Malhão Pereira que confirmou ser a baía de Cascais o único local abrigado que
permitia a Colon fundear aqui a sua caravela. Entre Cascais e Lisboa só existia
depois a zona do Restelo. Colon não seguiu directamente para Lisboa porque é
necessário esperar em Cascais pelas condições favoráveis para seguir até
Lisboa. Colon conhecia muito bem essa situação, fruto da sua grande experiência
de navegação aqui adquirida.
Sobre o facto de
Colon aqui ter chegado, destaque para uma nova explicação do Comandante Malhão
Pereira, que mostrou que Cristóvão Colon, saindo de Santa Maria, poderia, com
idêntica facilidade, optar entre navegar directamente para Palos ou dirigir-se
para Lisboa como fez. Veio para Lisboa por opção.
Desta forma ficou também
nauticamente comprovado que Cristóvão Colon não veio para Lisboa devido à
tempestade, mas sim porque quis vir para Lisboa.
E este é um facto
que pode mudar toda a interpretação da História.
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