segunda-feira, 22 de abril de 2013

Colombo - Lenda e mito na sessão de encerramento




A sessão de encerramento do ciclo de conferências, visitas e exposições para assinalar o 520º aniversário de Cristóvão Colon em Portugal no mês de Março de 1493 decorreu na Academia de Marinha.
A numerosa assistência, cerca de 90 pessoas, teve oportunidade de ver uma exposição bibliográfica “Cristóvão Colon na Academia de Marinha” composta pelas diversas publicações da Academia versando o tema e organizada pelo Dr. João Abel da Fonseca.
A mesa da sessão, presidida pelo Almirante Nuno Vieira Matias, Presidente da Academia de Marinha, foi composta pela Presidente da Academia Portuguesa da História, Profª Doutora Manuela Mendonça, pelo Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, General Alexandre de Sousa Pinto, pelo Presidente da Associação Cristóvão Colon, Engº Carlos Calado e pelo Prof. Doutor Carlos Margaça Veiga, coordenador da Comissão Executiva da organização.

Foram oradores o Comandante Luís Jorge Semedo de Matos e o Prof. Doutor José Manuel Garcia, ambos em nome da Academia de Marinha.

O Comandante Semedo de Matos apresentou uma conferência com o título «As viagens de Colombo e a náutica portuguesa de Quinhentos» na qual afirmou que o aparecimento de Colombo em Portugal, em 1476 na sequência de um naufrágio após uma batalha ao largo do Cabo de S. Vicente, decorre da lenda e do mito.
Referiu-se também a erros de Colombo na determinação de latitudes, ou por não ter viajado até aos locais ou por impreparação, ao escrever que S. Jorge da Mina está sobre a equinocial ou que a Islândia não está à latitude de 63º mas sim a 73º.
Destacou ainda que aquilo que Colombo descreveu como sendo o depois designado fenómeno da declinação magnética (as agulhas ‘noroestavam’ numa noite e ‘nordestavam’ na manhã  seguinte) terá sido, de facto, um outro fenómeno, sobre o qual o Comandante pretende publicar um trabalho.
O Prof. Doutor José Manuel Garcia apresentou a conferência «A relação de Cristóvão Colombo com D. João II» destacando a provável troca de correspondência entre Colombo e Toscanelli. Colombo teria tomado conhecimento da existência de uma carta dirigida por Toscanelli ao cónego Fernão Martins de Roriz em Portugal, apontando a possibilidade de chegada à Ásia viajando para Ocidente.
O Prof. José Manuel Garcia referiu que Fernão Martins tinha conhecido Toscanelli em 1459 quando se deslocou a Florença.
Foi com base nesta carta de Toscanelli que Colombo desenvolveu o seu plano de chegar à Índia navegando para ocidente.
Colombo apresentou o seu plano ao Rei D. João II. Ter-se-ão encontrado em 1483 na Igreja da Luz, onde se guardavam os objectos trazidos pelo mar desde as terras distantes, entre os quais havia as grossas canas onde cabiam várias garrafas de vinho entre os seus nós.
Ao ser-lhe recusado o apoio para o seu plano, Colombo decidiu ir apresentá-lo aos Reis Católicos.

No final das conferências não aconteceu o muito esperado período de debate, ficando desapontados todos aqueles que tinham várias perguntas para colocar aos conferencistas.
Tomaram a palavra a Presidente da Academia Portuguesa da História que pretendeu reforçar a ideia de que a história de Colon é uma questão em aberto e a disponibilidade e abertura para continuar essa discussão. Na mesma linha falou o Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar e o Presidente da Academia de Marinha nas palavras de encerramento da sessão.
Antes do encerramento da sessão, o Presidente da Associação Cristóvão Colon dirigiu-se à assistência para apresentar um balanço das comemorações:
Senhores Presidentes das Entidades que nos acompanharam nesta viagem, distintos académicos, minhas senhoras e meus senhores:
Tal como aconteceu com Cristóvão Colon há 520 anos, que efectuou a sua viagem de regresso na caravela Niña, também nós, simbolizando o facto, nos fizemos acompanhar neste ciclo de conferências por aquela pequena réplica da Niña, construída e oferecida ao Centro Cristóvão Colon pelo Ten.- Coronel Carlos Paiva Neves, nosso Membro Associado; réplica que está ali fora sobre uma mesa, juntamente com alguns desdobráveis do Centro Cristóvão Colon na nossa sede na vila de Cuba, que quem o desejar poderá recolher à saída – os folhetos, não a Niña, naturalmente!
Esta nossa viagem teve certamente menores dificuldades que a de Colon, mas conseguimos congregar 4 entidades para efectuar 5 colóquios com 10 conferencistas, mais 2 visitas temáticas guiadas e explicadas por conhecedores da história dos locais visitados, 2 exposições e o apoio de 3 Câmaras Municipais e 2 Juntas de Freguesia na cedência de auditórios. E tudo isto a custo zero !
Cerca de 270 pessoas + as 90 que aqui estão hoje, acompanharam as etapas da nossa viagem, que tentámos fazer corresponder aos lugares mais representativos do Roteiro do Almirante na sua passagem e estadia em Portugal no mês de Março de 1493.
É precisamente a demarcação e valorização deste Roteiro histórico-turístico que pretendemos enfatizar junto dos Municípios visitados, incentivando a sua criação e assinalando a presença de Cristóvão Colon na forma de uma simples placa, de um marco ou mesmo de um monumento. No nosso país, onde temos, no mínimo, imensas influências, ligações e comprovada vivência do Almirante, acha-se que não é nada de importante, ao passo que, por exemplo, em Galway, na Irlanda, ainda há pouco referida na conferência do Sr. Comandante Semedo de Matos, podemos encontrar um pequeno monumento assinalando a passagem de “Colombo” em 1477.
O balanço que a ACC faz desta iniciativa que hoje se encerra é extremamente positivo, tendo sido alcançados vários objectivos:
- Assinalar a efeméride
- Envolver Entidades académicas e científicas
- Dar a conhecer a discussão do tema a outros públicos
- Abordar, sob distintas perspectivas, os tópicos adequados a cada etapa do Roteiro de Colon.
É provavelmente ainda prematuro tirar conclusões definitivas para se poder reescrever alguns capítulos da História do descobridor do Novo Mundo, mas numa brevíssima súmula do que ficou dito nas sessões anteriores, não conhecíamos ainda as comunicações de hoje, destacamos que ficou acentuada a convicção de que, no regresso da descoberta, Colon veio para Portugal porque quis e não por acção da tempestade.
Para além de aqui ter aprendido todas as técnicas e arte de marear, os seus familiares e os seus amigos estariam próximos da mais importante nobreza portuguesa.
São cada vez mais contestados os documentos que têm sustentado a sua origem genovesa e cada vez mais se afirma um perfil de um navegador da Casa Real Portuguesa com as suas ligações à Casa de Viseu e Beja, conforme descrito pela Srª Profª Manuela Mendonça em Vale do Paraíso, de um homem que relata a D. João II onde se localizam as terras de onde regressa, e que, eventualmente, o esconderia dos Reis Católicos. O homem que dá origem a um conflito diplomático que vai mudar o mundo, mas que é, simultaneamente, a charneira e a ponte entre as facções que disputam a herança do poder em Portugal.
Como pode ter conseguido estes atributos e esta importância?
Quem era este outro homem, que não aquele de quem hoje aqui ouvimos falar?

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