domingo, 14 de abril de 2013

Cristóvão Colon em Santo António da Castanheira



O dia iniciou-se com uma visita guiada ao Convento de Santo António da Castanheira, local onde a Rainha Dona Leonor esperava por Cristóvão Colon no dia 11 de Março de 1493: “que não se fosse embora sem lhe ir beijar as mãos” fizera a Rainha saber a Colon quando este estava em Vale do Paraíso, reunido com D. João II.


 

Graças à amabilidade e disponibilidade dos seus proprietários, foi possível a um grupo de cerca de 20 interessados ouvir as explicações do Padre franciscano Henrique Rema, (Academia Portuguesa da História) sobre as origens do Convento, em progressivo estado de degradação. Pela sua importância e pelo significado histórico, as entidades oficiais deveriam zelar pela manutenção deste valioso património.

 
Do texto lido pelo Padre Henrique Rema transcrevemos alguns parágrafos:

 O convento de Santo António da Castanheira (Vila Franca de Xira) surgiu dentro do movimento do regresso às fontes do Franciscanismo. A observância literal da Regra, aspiração sempre presente aos melhores Frades Menores, esbarrou com a tendência inovadora de outros, que transformaram as pobres cabanas ou eremitérios em conventos, cada vez maiores e mais ricos. Assim, dum lado vivem os chamados frades “conventuais”, e do outro lado os “observantes”, de início denominados “espirituais” e “Fraticelli”.

        “S. António da Castanheira foi o primeiro convento da Observância que nas partes de Lisboa se edificou”[3].

        D. João I (1385-1433) chamou os Observantes em 1400 para reformar o convento de Alenquer, desamparado dos Conventuais. Para o efeito, veio o espanhol Fr. Diogo Árias com outros frades (p. 121).

        A seis léguas do Corte e a meia do Tejo, de trás de um monte, junto da Vila de Povos, havia ermida dedicada a Santo António de Vila Franca, junto da quinta “Fonte do Bispo”, cujo dono, Domingos Simões, doou aos Religiosos, que dela tomaram posse no ano de 1402 (p. 122), depois de algumas obras indispensáveis, dirigidas pelo espanhol Fr. Pedro de Alemancos, com a ajuda do Rei e de fidalgos. Entraram sem licença da Santa Sé, em razão das confusões geradas pelo grande Cisma citado, mais tarde concedida por Breve de Martinho V (1417-1431), remetido ao Prior de S. Vicente de Fora de Lisboa[4].

D. João II e a Rainha D. Leonor visitaram, no ano de 1491, a Castanheira, após a morte (por desastre) do filho em Santarém. Encontravam-se em Torres Vedras, quando o rei adoeceu e recuperou a saúde por intercessão de Santo António. Por isso, encaminharam-se a pé até ao Oratório da Castanheira, donde saíram para os conventos da Carnota e de Alenquer[5].

O convento foi completado por D. João II (1481-1495) e sua mulher D. Leonor, que se interessou por enriquecer a igreja conventual, multiplicar o número das celas e preservar a clausura com muros mais sólidos.

No colóquio, que teve lugar no auditório da Junta de Freguesia, a mesa foi constituída pela representante do Município, pelo Prof. Dr. Carlos Margaça Veiga (Academia Portuguesa da História) que dirigiu a sessão e pelos dois conferencistas.



O Prof. Dr. Humberto Nuno de Oliveira (Comissão Portuguesa de História Militar) abordou o tema “As razões da vinda de Cristóvão Colon a Lisboa e suas implicações diplomáticas” começando por passar em revista os antecedentes diplomáticos, desde a elevação de Ceuta a cidade e criação da sua diocese em 4 de Abril de 1418, pela Bula ‘Romanus Pontifex’ do Papa Martinho V e, no mesmo dia, a Bula ‘Sane charissimus’ que declarava como Cruzada a intervenção militar portuguesa no Norte de África.
Em 1453, a Bula Dum Diversas do Papa Nicolau V autorizava o Rei de Portugal D. Afonso V a invadir, buscar, capturar e subjugar sarracenos e pagãos.
A Bula Romanus Pontifex do Papa Nicolau V em 1454, que se prende com a questão da partilha do mundo, entregava a Portugal os territórios africanos, delimitando a contenda e definindo o árbitro.
O Tratado das Alcáçovas de 1479 foi a expressão do novo equilíbrio ibérico resultante da batalha de Toro, mas os Reis Católicos tiveram dele uma interpretação distinta da portuguesa, quando Cristóvão Colon regressou da sua viagem ao Novo Mundo.
Na sequência dessa viagem, a Bula Inter Coetera de Alexandre VI em Maio de 1493, que estipulava a delimitação por um meridiano a 100 léguas dos Açores e de Cabo Verde, comprovou a hesitação castelhana entre o poderio continental e a nova vocação ultramarina ou então correspondeu claramente ao início de uma nova opção estratégica.
Mas o Tratado de Tordesilhas, alterando já o meridiano divisório das 100 para as 370 léguas desde Cabo Verde, leva a supor o conhecimento  português do território do Brasil, visando assegurar não só a sua posse mas também impedir que os espanhóis pudessem estabelecer-se na costa brasileira hostilizando as armadas portuguesas que demandassem o Cabo da Boa Esperança a caminho da Índia.


O conferencista convidado pela Associação Cristóvão Colon para abordar o tema da visita de Cristóvão Colon à Rainha Dona Leonor foi o Dr. Carlos Fontes, já com um longo percurso nas pesquisas sobre o tema.
Carlos Fontes destacou que Colon teve dois encontros naqueles dias – primeiro com D. João II em Vale do Paraíso e depois com Dona Leonor em Santo António da Castanheira. Estava a Rainha acompanhada por Dona Beatriz, Duquesa de Viseu?
Para o encontro com o Rei, Colon vai acompanhado por D. Martinho de Noronha, seu parente e leva consigo o piloto Sancho Ruiz da Gama.
Presente está o Prior do Crato, Diogo Fernandes de Almeida, cujo pai, o Conde Lopo de Almeida era sócio de Lorenzo di Berardi na exploração das minas da Adiça.
Vale do Paraíso pertence aos domínios da Ordem de Santiago e das Comendadeiras de Santos, enquanto Castanheira pertence aos domínios da Ordem de Cristo.
No Convento da Castanheira, com a Rainha estão o Duque de Beja, D. Manuel, Mestre da Ordem de Cristo e irmão do Duque D. Diogo, morto pelo Rei, e o Marquês de Vila Real, cunhado do Duque de Bragança executado em 1483. Os filhos deste tinham sido enviados para Castela.


O Convento é panteão dos Ataídes, e Álvaro de Ataíde estava exilado em Castela. Ali se encontra o túmulo do Conde de Penamacor, Lopo de Albuquerque, mas na data de morte inscrita na lápide, ainda Lopo de Albuquerque se encontrava no exercício de funções em Castela, atribuídas pelos Reis Católicos.
Claramente se está na presença das duas facções que disputam a herança do poder em Portugal – D. João II tenta legitimar D. Jorge de Lencastre como herdeiro e Dona Leonor (com Dª Beatriz) defende os direitos de seu irmão, D. Manuel.
Mas entre 20 e 23 de Março D. João II reúne-se com Dona Leonor e com D. Manuel em Aldeia Gavinha para analisar as questões levantadas por Colon.
D. João II, parte para Torres Vedras e dali manda preparar uma armada chefiada por D. Francisco de Almeida, até que se iniciem as conversações entre os reinos português e castelhano.
Cristóvão Colon está com ambas as facções e não fornece aos Reis Católicos informações sobre a localização das Índias enquanto decorrem as negociações do Tratado de Tordesilhas.

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