terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 37 ('Prova' 62)

'Prova' {62} - pág. 325:

... apontamento autógrafo de D. Hernando Colón, redigido no quadro dos Pleitos Colombinos:

no obsta dezir que estrangeros no pueden tener mercedes ni oficios, porque esto no es para las Indias, do tan estrangero es i era (esto es, al tiempo que se hizo la Capitulacion) el castellano como el ginovés {62}

 

ACC:

Quase estaria nesta frase de D. Hernando uma verdadeira prova da genovesidade do Almirante.

Quase, quase … não fora o facto de ter sido proferida no quadro dos Pleitos Colombinos em que era essencial deixar bem claro que seu pai era um estrangeiro nos reinos de Espanha. E não fora o facto de estar construída numa forma peculiar.

D. Hernando não diz que “tão estrangeiro é um castelhano como um genovês”, que poderia eventualmente significar uma comparação entre um indivíduo castelhano e um indivíduo genovês, mas diz que “tão estrangeiro é o castelhano como o genovês”, que tem uma conotação diferente - “tão estrangeiro é o povo castelhano como o povo genovês”. Reforçada pelo facto de ser muitas vezes usual qualificar como genoveses todos os estrangeiros, de que existem diversos exemplos nos testemunhos recolhidos no Pleitos Colombinos e em cartas com notícias sobre a descoberta.

Trata-se portanto, não de uma frase afirmativa, mas sim de uma frase comparativa em que D. Hernando utiliza como comparação a nacionalidade genovesa, genericamente representativa de todos os estrangeiros em Castela, para demonstrar que nas Índias todos, até os castelhanos, eram estrangeiros.

D. Hernando, que como já se disse, provavelmente ou não conhecia qual a naturalidade de seu pai, ou teria bastantes dúvidas sobre o boato que tinha circulado mas que acabara por ser conveniente nos Pleitos colombinos para afastar as suspeitas que tinham recaido sobre o desvio do Almirante para Lisboa, escolhia assim uma frase suficientemente vaga para demonstrar que seu pai era estrangeiro sem se comprometer com uma naturalidade concreta. Tal como fez depois ao escrever a Historia do Almirante.

Tais suspeitas sempre se mantiveram como uma espada ameaçadora dos direitos de Cristóvão Colon e posteriormente dos seus descendentes, obrigavam o Almirante a justificar-se frequentemente (Vd. Pág. 449).

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