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sexta-feira, 30 de setembro de 2022
sábado, 12 de março de 2022
Colombo genovês, o tio errado #73 ('Provas' 118, 119 - FIM)
'Provas' {118 e 119} - pág. 892:
O seu (de Girolamo Benzoni) parti pris anti-espanhol
ressumbra já, embora discretamente, da história do ovo de Colombo.
É igualmente conspícuo na forma como relata o descobrimento do Novo Mundo: para
ele Colombo teria começado por propor o seu plano à Senhoria de Génova, de
que era natural, que, no entanto, o teve "por sonho e
efabulação" {118} ...
ACC:
Estas alegações baseiam-se em escritos e afirmações de Benzoni (1519-1570) bastante posteriores aos acontecimentos e da autoria de quem não faria a mínima ideia de quem era o Almirante.
FIM DAS 'PROVAS' DO TIO GENOVÊS DO PROF. THOMAZ
sexta-feira, 11 de março de 2022
Colombo genovês, o tio errado #72 ('Provas' 116, 117)
'Prova' {116} - pág. 785:
Entretanto, mandadas por carta ou apresentadas de viva
voz à corte pelos que regressavam, choviam em Espanha queixas contra os Colombos.
Assacavam-lhes mau governo, crueldade, e
inexperiência, como stranieri e oltramontani,
"estrangeiros e ultramontanos"que jamais haviam aprendido o modo de
governar gente de qualidade. Recorde-se que ultramontano, em sentido próprio,
significa "oriundo do outro lado dos Alpes".
ACC:
Não tendo conseguido encontrar nenhuma frase completa
e sem erros que tivesse sido escrita pelo Almirante em italiano, o Prof. Thomaz
consegue a proeza de pôr na voz ou na pena dos colonos espanhóis na Hispaniola
as queixas, veja-se, em idioma italiano. Tudo isso para nos dizer que
“oltramontani” significa “oriundo do outro lado dos Alpes”.
Esqueceu-se o inefável Prof. Thomaz que em italiano,
escolhido propositadamente para iludir o leitor, do outro lado dos Alpes, para
os italianos, fica o resto da Europa.
'Prova' {117} - pág.
849:
... Para mais os descontentes com a governação de
Ovando poderiam juntar-se-lhe e intentarem um golpe. Os inimigos de Colombo
insinuavam que ele queria alçar-se contra os Reis e entregar as Índias aos
genoveses o otra nación fuera de Castilla.
ACC:
O Prof. Thomaz escreve na mesma página:
“Há que notar que o próprio Almirante dera de certo
modo azo a tais rumores, pois sempre se associara a mercadores italianos, como
Gianotto Berardi, Francesco dei Bardi, Amerigo Vespucci, Girolamo Rufaldi,
Simone Verde, Francesco Doria, Francesco Sopranis di Riberoll, Gaspar Spinola e
Rafaele Catagno”.
Naturalmente que o Almirante estabelecera ligações com
genoveses pois estes, tal como os oriundos de outras grandes potencias
comerciais italianas - florentinos e venezianos – tinham uma forte presença
comercial e financeira em Castela. Recorrer a financiamentos ou negócios com
quem dominava o mercado não significa absolutamente que o Almirante fosse
genovês.
Note-se, aliás, que a frase utilizada pelos
descontentes expressa isso mesmo, pois acusavam Colon de querer entregar as
Índias aos genoveses, implantados em Castela, ou a outra nação fora de Castela.
quinta-feira, 10 de março de 2022
Colombo genovês, o tio errado #71 ('Prova' 115)
'Prova' {115} - pág. 756:
A ligação do descobridor a Génova é, alem disso, ainda que indirectamente, confirmada pelos codicilos deste seu derradeiro testamento, em que institui seis legados, dos quais cinco a favor de genoveses {115}
ACC:
O que aqui se invoca é um apenso ao Codicilo
e Testamento de 1506, geralmente conhecido como Memorial das Dívidas ou
Memorial dos Pagos, cujo texto é o seguinte:
Relacion
de ciertas personas a quien yo quiero que se den de mis bienes lo contenido en
este memorial, sin que se le quite cosa alguna dello.— Hasele de dar en tal
forma que no sepa quien se las manda dar.
Primeramente,
a los herederos de Geronimo del Puerto, padre de Benito del Puerto, Chanceller
en Genova, veinte ducados
o
su valor. A Antonio Vazo, mercader Ginoves, que solia vivir en Lisboa, dos mil
e quinientos reales de Portugal, que son siete ducados poco mas, a razon de
trescientos e setenta y cinco reales el ducado.
A
un judio que moraba a la puerta de la juderia en Lisboa, o a quien mandare un
Sacerdote, el valor de medio marco de plata.
A
los herederos de Luis Centurion Escolo, mercader Ginoves treinta mil reales de
Portugal, de los cuales vale un ducado trescientos ochenta y cinco reales, que
son setenta y cinco ducados poco mas o menos.
A
esos mismos herederos y a los herederos de Paulo de Negro, Ginoves, cien
ducados o su valor. Han de ser la mitad a los unos herederos y la otra a los
otros. A Baptisla Espindola, o a sus herederos, si es muerto, veinte ducados.
Este Baptista Espindola es yerno del sobredicho Luis Centurion era hijo de
Micer Nicolao Espindola de Locoli de Ronco, y por senas el fue estante en Lisboa
el ano de mil cuatrocientos ochenta y dos.
Não há dúvida de que quase todos os destinatários são genoveses. As quantias a entregar são referidas na moeda Ducado, à excepção do meio marco de prata, e são muito distintas e detalhadas, de valores pouco elevados.
O Ducado era uma das moedas de Castela, onde o Almirante faleceu e onde teria mandado escrever esse Memorial dos Pagos. Quando o Almirante redigiu ou fez redigir o Memorial encontrava-se em Castela e naturalmente indicou os valores em Ducados. Seria não apenas uma moeda castelhana mas também uma moeda usada no comércio internacional, nomeadamente pela República de Veneza.
No entanto, algumas
quantias são referidas primeiramente em Reais de Portugal, depois convertidos para Ducados.
A generalidade dos
personagens a quem o Almirante manda entregar as quantias, mesmo sendo
genoveses, está referenciada a Lisboa.
Sabe-se que Génova detinha na época uma forte presença comercial e financeira
na península ibérica.
Um dos destinatários em
Lisboa está inclusivamente referenciado cronologicamente a 1482.
Tudo parece apontar,
portanto, para situações ocorridas em Lisboa/Portugal antes da ida para
Castela. A data de 1482 aponta para o período em que o Almirante navegava para
a Mina e Guiné, nos navios portugueses.
Curiosamente, no chamado Documento Assereto, independentemente
da questão da sua fiabilidade, que se refere a um litígio comercial entre
personagens genoveses, as quantias são mencionadas assim: xxx Ducados ou xxx
Cruzados (sempre em simultâneo - e com o mesmo valor). Para o negócio de compra
de açúcar que deveria decorrer na Madeira, as quantias são mencionadas em reais
portugueses e explicitada a conversão para Ducados / Cruzados.
O Cruzado seria uma moeda usada na República de Génova
nessa altura (1478).
O que é certo, pelas actas publicadas na Raccolta, é
que a Lira era uma moeda corrente em Génova, pois todas as quantias
mencionadas em actos de dívidas ou outros negócios, são expressas em Liras.
Se as quantias do Memorial correspondessem a dívidas contraídas por Cristoforo Colombo em Génova, os valores estariam expressos em Liras (e não em Ducados ou Reais portugueses); ou eventualmente expressos em Liras com indicação do valor equivalente em Ducados.
Há no entanto um aspecto
a destacar, referente à razão pela qual o Almirante não queria que se soubesse
quem mandava dar essas quantias.
Se eram dívidas que
Cristoforo Colombo não tinha pago, como foi larga opinião dos genovistas, não
se encontraria motivo para que tal acontecesse. Poderiam mesmo ter sido pagas
em vida do Almirante, mas assim não aconteceu e ficaram postergadas para o
testamento. Que seu filho D. Diogo Colon não cumpriu, inscrevendo-as também no
seu testamento de 1509, de forma muito vaga, e depois no seu testamento final
de 1523.
Haveria uma razão para protelar por mais
de quarenta anos a satisfação de umas dívidas, porque quem tinha contraído
essas dívidas não era Cristoforo Colombo! Era o navegador X, que não se chamava
Colombo.
quarta-feira, 9 de março de 2022
Colombo genovês, o tio errado #70 ('Prova' 114)
'Prova' {114} - pág. 756:
Seja como for, as dádivas de caridade que Colombo
mandou fazer em Génova são confirmadas quer pelas suas missivas ao embaixador genovês
Nicoló de Oderigo quer pela sua correspondência com a Banca S. Giorgio,
quer ainda pelos Anais de Giustiniani. Cabe pois perguntar: se Colombo não era
genovês, porque fez, em Sevilha, tamanhos donativos aos pobres daquela cidade
da Ligúria? não haveria pobres mais perto?
ACC:
As dádivas de caridade que Colombo mandou fazer em
Génova apenas existem na imaginação genovista, distorsão da realidade factual.
Quer as cartas ao embaixador genovês Nicolo Oderigo
quer a carta ao Ufficio di San Giorgio, a única que foi divulgada já que da
outra mencionada pelo Almirante o Ufficio não deu conta, permitem considerar
que o dízimo dos rendimentos com que Colon acenou seria uma forma de pagamento
regular daquilo que pretendia obter do Ufficio, provavelmente um financiamento
para o seu projecto para a reconquista de Jerusalém.
Em nenhuma dessas cartas o Almirante se refere aos
pobres daquela cidade da Ligúria.
Quanto a Giustiniani, que escreveu “nella morte sua fee come bon patriota, perche
lassó per testamento all'Ufficio do S. Giorgio la decima parte delle sue
entrate in perpetuo” também faltou à verdade ao
dizer que na sua morte o Almirante deixou em testamento ao Ufficio a décima
parte dos seus rendimentos, para sempre.
Como se sabe, Colon morreu
em 20 de Maio de 1506 e na véspera confirmou por Codicilo autenticado o
testamento que tinha preparado anteriormente em 25 de Agosto de 1505
“Na
nobre vila de Valladolid, a dezanove de Maio no ano do nascimento de Nosso
Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e seis, perante mim, Pedro de Hinojedo,
escrivão da Câmara de Suas Altezas … o Senhor Dom Cristóvão Colon, Almirante e
Vice-Rei e Governador-Geral das Ilhas e Terra firme das Índias descobertas e por
descobrir que disse que era: estando doente de seu corpo, disse que porquanto
ele tinha feito testamento perante Escrivão público, que ele agora ratificava e
ratifica o dito testamento, e o aprovava e o aprovou como bom, e se necessário
fosse o outorgava e outorgou de novo. E agora, acrescentando ao dito testamento
ele tinha escrito com sua mão e letra um escrito que perante mim mostrou e
apresentou, assinado com o seu nome, que ele outorgava e outorgou todo o
conteúdo do dito escrito perante mim o Escrivão, segundo é pela via e forma que
no dito escrito se continha, e todas as disposições nele contidas para que se
cumpram e valham como sua última e póstuma vontade, …
O teor
da qual dita escritura que estava escrita com letra e mão do dito Almirante e
assinada com o seu nome, palavra por palavra é este que se segue:
Quando
parti de Espanha no ano de mil quinhentos e dois eu fiz uma determinação e
‘mayorazgo’ dos meus bens, e do que então me pareceu que cumpria à minha alma e
ao serviço de Deus eterno, e honra minha e dos meus sucessores: a qual
escritura deixei no Mosteiro de las Cuevas em Sevilha … a qual determinação
aprovo e confirmo por esta…
Eu
constituí o meu caro filho D. Diogo Colon como herdeiro de todos os meus bens e
ofícios que tenho de juro e herdade, de que fiz o ‘mayorazgo’, e se ele não
tiver filho herdeiro varão que herde o meu filho Don Hernando, da mesma forma,
e não tendo ele filho varão herdeiro que herde D. Bartolomeu meu irmão, da
mesma forma, e se não tiver filho herdeiro varão, que herde outro meu irmão;
que se entenda assim, de um a outro parente mais chegado à minha linha e isto
seja para sempre. E não herde mulher, salvo se acontecesse não se achar homem,
e se isto acontecer seja a mulher mais chegada à minha linha…
… E
digo que toda a renda que ele tiver por razão da dita herança, que faça ele dez
partes em cada ano, e que uma parte destas dez a reparta entre os nossos
parentes, os que mais precisarem… e depois, destas nove partes …” [segue-se uma
minuciosa descrição da distribuição, por partes, dos rendimentos pelos seus
familiares] …
“Digo a
D. Diogo, meu filho, e mando que logo que ele tenha suficiente renda do dito
‘mayorazgo’ e herança, que possa sustentar numa Capela, que se há-de fazer,
três Capelães que digam cada dia três missas, uma em honra da Santa Trindade, e
outra pela Conceição de Nossa Senhora, e outra por alma de todos os fiéis
defuntos, e pela minha alma, e de meu pai e mãe e mulher. … e que a dita Capela
possa ser na Ilha Hispaniola,… que seja ali em la Vega de la Concepción…
Feita a
vinte e cinco de Agosto de mil quinhentos e cinco: segue Christo Ferens.
Testemunhas
que estiveram presentes e viram fazer e outorgar todo o acima escrito ao dito
Senhor Almirante… Em testemunho da verdade – Pedro de Hinojedo, Escrivão.”
Como se comprova, a décima parte dos rendimentos foi destinada
para ser repartida entre os parentes mais necessitados, não ao Ufficio de San
Giorgio, nem há nenhuma menção a Génova.
Só se explica o erro, ou mentira consciente, de Giustiniani
por ter confundido com a última vontade do Almirante o que diziam as cópias das
pretensas cartas enviadas pelo Ufficio ao Almirante e a seu filho, de que teria
tido conhecimento quando preparou os Anais de Génova, eventualmente mesmo
através do chanceler António Gallo, uns anos antes.
terça-feira, 8 de março de 2022
Colombo genovês, o tio errado #69 ('Prova' 113)
'Prova' {113} - pág.
756:
Foi quiçá devido a tal aparente descortesia que o pagamento foi suspenso, não sabemos quando, como Giustiniani atesta; apenas sabemos com certeza quase absoluta que constava ainda do testamento de 1502, que desapareceu sem deixar rastro, pois um dia depois de o redigir, por carta autógrafa de que se conserva o original, comunicou à Banca San Giorgio que lhe legara o dízimo das suas rendas. Seja como for, não consta do testamento final do Almirante, feito a 19 de Maio de 1506, em que não aparecem já as mostras de genofilia que caracterizavam o primeiro.
De facto, escrevendo uns trinta anos após os factos,
Giustiniani refere ainda o legado, que nella morte sua fee come bon
patriota, perche lassó per testamento all'Ufficio do S. Giorgio la decima parte
delle sue entrate in perpetuo, acrescentando: nõ só per qual
cagione nõ si ha fatto.
ACC:
Como se viu anteriormente,
as cartas que teriam sido enviadas pelo Ufficio di San Giorgio a Don Diogo
Colon e ao Almirante seu pai não chegaram aos destinatários, apenas se
conhecendo as alegadas cópias conservadas em Génova. Não tendo então recebido
resposta do Ufficio, Colon queixou-se disso mesmo a Nicolo Oderigo.
Porém nada aconteceu.
Oderigo não se interessou pelo caso, apesar de o Ufficio de San Giorgio dar a
entender nas suas cartas que Génova iria beneficiar dum enorme legado da décima
parte dos rendimentos obtidos nas Índias pela família Colon.
Que estranha convergência
de manifestações de desprezo para com o “Ilustre varão, claríssimo e amantíssimo
concidadão”. Ou será que as cartas remetidas pelo Almirante não são
autênticas, ou são, pelo menos, contrafacções parciais de missivas originais?
Originais esses em que não havia nenhuma menção a dízimos prometidos ao
Ufficio.
Porque, de facto, ao contrário
do que escreveu o Prof. Thomaz, o pagamento não foi suspenso, simplesmente
porque não se suspende algo que nunca existiu.
E portanto, a sua certeza quase absoluta de que constava do testamento de 1502 cai estrondosamente por terra.
Tanto mais que numa carta a
seu filho Dom Diogo também em vésperas da partida para a quarta viagem, o
Almirante manda e encarrega o seu filho para que destine o décimo dos
rendimentos a pobres necessitados e parentes, antes de outros. (Cf. VARELA, Consuelo – Cristóbal Colon, Textos y documentos
completos. Madrid, 1989 Alianza Universidad, pág. 308).
Perante tal discrepância, poderia permitir-se a conclusão de que esta correspondência teria sido forjada, o que não seria, de todo, surpreendente.
Seguimos no entanto a linha
de admiti-la como possivelmente verdadeira, considerando que é abusiva a
interpretação de que o Almirante teria legado o dízimo dos seus rendimentos a
Génova. O que mostram as duas cartas a Oderigo e a sobrevivente carta ao
Ufficio di San Giorgio é que o Almirante procurava financiamento para o seu
omnipresente projecto de acumular ouro das Índias para ajudar na reconquista de
Jerusalém.
Génova era uma grande
potência marítima e sempre fora importante financiadora da expansão
mediterrânica e atlântica.
A incompreensível ausência, certamente subtracção, da outra carta que o Almirante diz que enviou simultaneamente ao Ufficio, indicia que o seu conteúdo era a chave para a revelação do negócio subjacente a esta aproximação de Colon a Génova, que nada tinha a ver com a sua pretensa naturalidade.
segunda-feira, 7 de março de 2022
Colombo genovês, o tio errado #68 ('Prova' 112)
'Prova' {112} - pág. 756:
A 27.XII.1504 (Colombo) queixou-se por carta a Nicoló
de Oderigo de não ter recebido nem resposta deste nem da Banca às
suas cartas de 1502, o que lhe pareceu que descortesia fue deses
Señores, tanto mais que soubera por Messer Francisco de Ribarol, que as
dádivas haviam chegado a salvamento {112}
ACC:
Esta outra carta do Almirante está publicada na Raccolta, P. I, Vol. III, Série A, Tav. XXXIIII, com transcrição na pág. 34. É também apresentada como sendo dirigida a Oderigo embora só seja reproduzido o interior e não o reverso da folha, no qual estaria o nome do destinatário. É considerada autógrafa, isto é, escrita pela mão de Colon:
«Virtuoso Senhor,
Quando eu parti para a viagem de onde agora regresso
falei-vos longamente.
Creio que de tudo isto vos recordareis bem.
Julguei que quando chegasse eu encontraria as vossas
cartas e ainda pessoa com palavra [alguém que lhe falasse pessoalmente].
Também nesse tempo deixei a Francisco de Ribarol um
livro de treslados de cartas e outro dos meus privilégios numa mala de couro
cordovês tingido com o seu fecho de prata e duas cartas para o Ofício de S.
Georgi ao qual atribuía eu o décimo da minha renda para desconto nos direitos
do trigo e de outros abastecimentos.
De nada disto tudo sei notícias.
O senhor Francisco [Ribarol] diz que tudo chegou aí
em segurança.
Se assim é, foi descortesia desses senhores de S.
Georgi por não terem dado resposta nem por isso terem acrescentado a fazenda e
isto é motivo para se dizer que quem serve a todos não serve a ninguém.
Outro livro dos meus privilégios como o sobredito
deixei em Cádiz a Francisco Catânio, portador desta, para que também vo-lo
enviasse.
Que um e outro fossem colocados em bom recato onde
vos parecesse bem.
Recebi uma carta do Rei e da Rainha meus senhores
nesse tempo da minha partida.
Ali está escrita; vêde-la que veio muito boa.
Desejo ver [receber] vossas cartas e que falem
cautelosamente do propósito em que ficamos.
…
De Sevilha a 27 de Dezembro de 1504»
Esta outra carta,
para além de ser considerada autógrafa, afigura-se também verosímil. O
Almirante escreve a Oderigo após ter regressado da 4ª viagem e relembra Oderigo
que falaram antes da partida para essa viagem, que ocorreu em 11 de Maio de
1502.
Em 21 de Março de
1502 tinha o Almirante escrito a Oderigo informando-o de que lhe enviava pelo
portador Francisco de Ribarol o Livro das suas Escrituras e cópias de cartas. E
que lhe enviaria um segundo Livro dos Privilégios que estava a ser terminado.
Agora, nesta
segunda carta mostra-se descontente por não ter recebido nenhuma resposta de
Oderigo, quer por carta quer por mensageiro em pessoa.
Sabe que Francisco
de Ribarol entregou o primeiro Livro a Oderigo e que o segundo Livro seguiu com
Francisco Catânio.
Nesse tempo em que
estava de partida Colon recebeu uma carta dos Reis, na sua opinião, muito boa.
Isto é, essa carta correspondia à insistência do Almirante sobre os seus
direitos. Ora, efectivamente em carta de 14 de Março os Reis prometem-lhe
mercês.
Colon pede a Oderigo que lhe escreva, mas que seja cauteloso nas palavras, porque o assunto é sigiloso, na carta não deve mencionar-se qual o assunto tratado entre o Almirante e Oderigo.
Ou seja, reforça que o objectivo do Almirante é que as cópias do Livro dos Privilégios fiquem em segurança [porque do que lá está escrito depende o futuro dos seus herdeiros].
Por incrível que pareça, não existiu sequer uma
carta do Ufficio de S. Georgio a tentar retomar as conversas e beneficiar a
República com a ‘generosa oferta’ depois de Colon se ter queixado a Oderigo em
1504.
Patética é a
afirmação do Prof. Thomaz, quando escreve:
“… tanto
mais que soubera por Messer Francisco de Ribarol, que as dádivas haviam chegado
a salvamento.”
Dádivas? O Livro dos Privilégios e umas cartas são
dádivas, ou o Prof. Thomaz quer iludir ainda mais os seus leitores menos
atentos?