segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado #61 ('Provas' 95-97)

 {95} - pág. 691:

E por que razão o mesmo faz Michele da Cuneo {95}, na carta em que noticia a Girolamo Aimari a segunda viagem colombina, redigida em Savona entre 15 e 28 de Outubro de 1495?

 

ACC:

A questão da carta de Michele de Cuneo já foi amplamente abordada na apreciação da alegação {76}.

O pretensioso título da carta de Michele de Cuneo pode não ser mais do que um destaque inserido pelo editor da sua publicação, não constando nessa forma no manuscrito original e só com ele podendo ser comprovado. Abundam na história do Cristoforo Colombo genovês as situações de originais desaparecidos para dar origem a versões convenientemente adaptadas.

E assim é de facto! Não existe o original e o manuscrito que existe é uma cópia datada de 1511, da autoria de Jacopo Rosseto, conservado na Biblioteca da Universidade de Bolonha, divulgado em 1885 e cuja autenticidade foi questionada devido à diversidade de estilos. (Cf. MALONE, Ryan – Michele de Cuneo’s letter on the Second Voyage, 28 October 1495.)

 

 {96} - pág. 691:

E Battista Fregoso, que foi doge de Génova de 1478 a 1483, no seu De dictis factisque memorabilibus, publicado postumamente em Milão em 1509, em que começa assim o resumo da história da primeira viagem colombina: "admirável efeito da arte náutica e da cosmografia foi o que Cristóvão Colombo, de nação genovês {96}, mostrou no ano da salvação de 1493...

 

ACC:

Mais um relato com origem em autores que se limitaram a repetir o boato que circulara.

 

{97} - pág. 691:

Há que admirar igualmente a velocidade com que a atoarda se terá divulgado: em 1498, antes do regresso das Antilhas de João António, o Boatário, atingira já a Grã Bretanha, pois em carta escrita aos Reis Católicos a 21.VII.1498, Pedro de Ayala, embaixador espanhol na corte inglesa, inquieto com a partida de uma expedição encarregada de explorar a América Setentrional, receando que os ingleses se fossem a imiscuir nas Índias de Castela, alertava os Reis:

El Rey de Inglaterra embió cinco naos armadas con otro ginovés como Colón {97} a buscar la ysla de Brasil y las VII Ciudades, fueran proveídas por un año.

 

ACC:

Acrescenta o Prof. Thomaz que se tratava de Giovanni Caboto, que obtivera a 28.III.1476 a cidadania veneziana por residir em Veneza havia já 15 anos, mas era segundo tudo leva a crer de origem genovesa como Colombo.

Segundo tudo leva a crer, diz o Prof. Thomaz, sem indicar o que é o “tudo” que lhe aponta a origem genovesa de Caboto. Talvez pelo que escreveu Pedro de Ayala, certamente com capacidade de adivinhar que aquele personagem, que nem nomeia por desconhecer quem seria, veneziano desde 1476, tinha nascido genovês.

Ou seria porque em Castela se designavam por genoveses todos os estrangeiros?

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado #60 ('Prova' 94)

 'Prova' {94} - pág. 691:

E por que razão Bartolomeu Senárega em Génova, ao noticiar o seu regresso da viagem descobridora, se lhe refere e a seu irmão nos seguintes termos: “Christophorus et Bartolomœus Columbi, fratres, natione ligures, ac Genuœ  plebeis orti parentibus …”

 "Cristóvão e Bartolomeu Colombo, lígures, nascidos em Génova de progenitores plebeus"?

 

ACC:

Alguém terá soprado esta frase de Bartolomeo Senarega ao Prof. Thomaz, ou terá sido uma ligeira precipitação na leitura, pois o que consta na pág. 535 das crónicas de Bartolomeo Senarega com o título “Bartholomæi Senaregæ  – Commentaria de Rebus Genuensibus” no Tomo XXIV da obra Rerum Italicarum Scriptores publicada por Lodovico Antonio Muratori e disponível online em Biblioteca Europea di Informazione e Cultura – BEIC, é: “Christophorus, & Bartholomæus Columbi fratres Genuæ plebejis parentibus orti, & lanificii mercede victitarunt …”

A expressão “lígures de nação” não consta portanto no original, sendo assim da lavra de outrem, que não de Senarega.

Trata-se de um conjunto de crónicas entre 1488 e 1514, ano em que faleceu, escritas com referência ao ano respectivo.

Entre esta parte do texto de Senarega e do texto de Antonio Gallo que já foi analisado na alegada prova {1} não existem diferenças substanciais, ficando por determinar qual deles copiou o outro, sendo mais provável que Senarega tenha sido o cábula.

Gallo escreveu (Antonii Galli Navigatione Columbi per inaccessum antea Oceanum Commentariolus, in MURATORI, Lodovico - Rerum italicarum scriptores, Vol. XXIII, 1733, pág. 301): “Christophorus, & Bartholomæus Columbi fratres, natione Ligures, ac Genuæ plebejis orti parentibus, & qui ex lanificii (nam textor pater, carminatores filii aliquando fuerunt) mercedibus victitarent …”

Com esta transcrição se percebe que o excerto atribuído pelo Prof. Thomaz a Bartolomeo Senarega é, de facto, mais aproximado ao trecho de Antonio Gallo.

Demonstra-se também que Senarega nada conhecia directamente sobre a viagem do Almirante Cristóvão Colon. O irmão Bartolomeu Colon não participou na descoberta, ou seja na 'audacíssima proeza'. Portanto, o Bartolomeo Colombo não teria participado junto com o Cristoforo Colombo caso fosse este o Almirante como defende o Prof. Thomaz.

Na mesma linha se inclui um texto idêntico de Giustiniani, publicado em 1516, o qual foi contestado por D. Hernando Colon.

Acresce que se conhecem nove cópias do texto de Gallo, cujo hipotético original anterior à sua morte em 1510 desapareceu, e dessas cópias apenas uma é do séc. XVI, conservando-se em Copenhaga e, como o leitor já terá adivinhado, não inclui o texto sobre os irmãos Colombo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 59 ('Prova' 93)

 {93} - pág. 691:

Se o primo Juan António só c. 1496 traz para Espanha a teoria de que o descobridor era genovês e se chamava Colombo, por que motivo já em 1493 Pedro Mártir de Angleria, {93} em três das suas cartas em que noticia a descoberta, escritas entre Setembro e Novembro, lhe chama por duas vezes lígure e uma genuensis

 

ACC:

Como antes se viu, o boato sobre a naturalidade genovesa do Almirante começou muito antes da chegada de Juan António, que já se demonstrou não ser seu primo. Logo na primeira impressão em Barcelona da carta de Colon a Santangel, o nome foi alterado para Colom e na subsequente tradução para latim foi-lhe adicionado um epigrama laudatório em que a deturpação foi mais longe, chamando-lhe Columbo. Portanto, desde a primeira metade de 1493 que se começara a propagar essa informação deturpada.

Quando Pietro Martire d’Anghiera escreveu em latim as suas cartas relatando o sucesso da viagem ao Novo Mundo, já a desinformação estava em curso, mas ele nunca lhe chamou Columbo ou Columbus, sempre Colonus.

E nas três cartas a que o Prof. Thomaz alude, bem como em todas as outras, não o adjectivou como genuensis, mas sim como lígure (Cf. Opus Epistolarum, Petri Martyris Anglerii):

 

13.IX.1493 ao Conde Tendilla e ao Arcebispo de Granada: “Colonum Ligurem”. (Livro Sexto, epístola CXXXIII)

13.IX.1493 a Ascanio Sforza: “Christophorus quidam Colonus vir Ligur” (Livro Sexto, epístola CXXXIV)

20.X.1494 a Johannes Borromeo: “Christophorum Colonum Ligurem”; “Colonum eum Ligurem” (Livro Sétimo, epístola CXLII)

 

Outras cartas:

14.V.1493 a Johannes Borromeo: “Christophorus quidam Colonus vir Ligur”. (Livro Sexto, epístola CXXX)

1.X.1493 ao Arcebispo de Braga: “Colonus quidam” (Livro Sexto, epístola CXXXV)

1.XI.1493 ao Cardeal Ascanio: “Colonus” (Livro Sexto, epístola CXXXVIII)

7.XII.1494 a Pomponio Leto: “ipsi Colono, Almirante (ut ajunt Hispani)” (Livro Sétimo, epístola CXLVI)

1.I.1494 a Pomponio Leto: “Colonus”; “Colonus, ipse Almirantus”; “Colonus(Livro Sétimo, epístola CLII)

15.VIII.1495 ao Cardeal Bernardino: “Admirantus ipse Colonus” (Livro Oitavo, epístola CLXIV)

 

Sem sequer o conhecer bem, como demonstram as expressões que utilizou para o mencionar “dito Colonus” ou “um tal Colonus” Pietro Martire decidiu chamar-lhe homem lígure, estabelecendo de alguma forma uma ligação à sua própria região natal na ‘Itália’, apesar de manter latinizado para Colonus o apelido Colon, sem o deturpar para Columbo.

O Prof. Thomaz não se manifesta quanto ao nome Colonus, que lhe dificultaria a versão do Columbus genovês, focando-se na qualificação “lígure”.

Curiosamente os lígures foram um dos povos que ocuparam o território do sul de Portugal, Alentejo / Algarve no séc. V a.C. (Cf. MELO. Amílcar – Portugal económico, político e social. Lisboa: Ed. Vieira da Silva, 2016. Págs.26- 27)

Os Lígures não eram de origem itálica. Eles pertenceram provavelmente à raça Ibérica, a qual é o substrato da nação espanhola. (Cf. HARRISE, Henry – Christopher Columbus and the Bank of Saint George, New York: Ed. Privada, 1888, pág. 64)

Portanto, Pietro Martire embora pudesse ter induzido em erro os seus correspondentes e principalmente os precipitados leitores da actualidade, não faltou à verdade ao dizer que Colonus era um lígure. Possivelmente um Lígure originário da Ibéria, ou melhor, do sul de Portugal.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 58 ('Provas' 91, 92)

 'Prova' {91} - pág. 687:

Quando em 1500 os Reis enviaram Francisco de Bobadilha à Espanhola como pesquisador, com poderes para inquirir do comportamento de Colombo e de seus homens e substituí-lo como governador, três dos cinco franciscanos que se encontravam na ilha como missionários escreveram ao Cardeal Cisneros, arcebispo  de Toledo e Primaz de Todas as Espanhas, expondo as suas queixas contra o Almirante, que acusavam de se querer rebelar contra a Coroa. No memorial que enviaram juntamente queixavam-se de João António nos seguintes termos:

 Item que Vuestra Señoria trabaje con sus Altezas cómo no consientan venir a esta tierra ginoveses {91} porque la robarán y destruirán, que por cobdicia d'este oro que se ha descubierto, Juan Antonio Ginovés trabajava ya de hazer partido con los vezinos de las isla acerca de los bastimentos ...

ACC:

Para além do aspecto que o Prof. Thomaz apresenta como prova {91}, saliente-se que os três franciscanos que escreveram ao Cardeal Cisneros acusavam o Almirante de se querer rebelar contra a Coroa. Como se depreende, a suspeição que recaiu sobre Colon devido à sua vinda a Lisboa no regresso da primeira viagem, e que foi na verdade um desvio propositado, manteve-se sempre como uma ameaça aos seus direitos e cargos.

Quanto à queixa contra João António tem como digno de nota o facto de o designarem como Juan Antonio Ginovés. Como anteriormente se viu segundo o que deixou escrito Don Hernando Colon, Juan António ‘Colombo’ era natural de Fontenoy-le-Château na Borgonha e não da República de Génova, confirmando assim que era comum chamar de genoveses a todos os estrangeiros.


'Prova' {92} - pág. 687:

Do mesmo dia, 12.X.1500 datam também: uma carta de Fr. Juan de Robles, recomendando ao cardeal que ni el almirante ni cosa suya vuelva más a esta tierra, porque se destruiria todo; e outra de um frade, Fr. Juan de Trasierra, instando com o arcebispo para que tirasse a Espanhola "do poderio do rei Faraó" e fizesse com que ninguno de su nación venga en estas islas. {92} Foi provavelmente devido a estas queixas, que o primaz há de ter feito chegar aos monarcas, que estes, nas instruções que a 16.IX.1501 deram a Nicolás de Ovando, sucessor de Bobadilla, lhes ordenaram que visse se havia na ilha alguns estrangeiros, e achando-os os recambiasse para Castela.

 

ACC:

Mais uma vez o Prof. Thomaz confunde-se a ele próprio ou tenta confundir o leitor. Nestas frases não existe uma única afirmação sobre a genovesidade do Almirante. O que há é uma queixa de Fr. Juan Robles sobre o Almirante e instruções régias a Ovando para recambiar para Castela algum estrangeiro que estivesse na ilha. A única associação possível é que o Almirante era estrangeiro.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 57 ('Prova' 90)

{90} - pág. 687:

É só no testamento de D. Diego, irmão do Almirante Velho, lavrado em Sevilha a 13.II.1515 que este (Juan Antonio Colombo) aparece designado por Colón, ad instar de seus primos: Item, mando que se dén a Juan Antonio Colón cient castellanos de oro é que se los den de los bienes é fazienda del dicho Señor Don Diego Colón (o 2º Almirante, filho e sucessor do descobridor e portanto sobrinho do testador) que tiene en las Indias.

Ignoramos a razão de ser deste legado; mas a metonomásia do primo é evidente: a consciência do próximo parentesco entre ambos os indivíduos. {90}

O mesmo se passa com seu irmão André que depôs em 1515 nos Pleitos Colombinos, na provança então feita nas Índias a rogo do segundo almirante, em que é designado por “Andrea Colón”;

 

ACC:

Com atrás se demonstrou, Juan António 'Colombo' não era o Giovanni, primo de Cristoforo. O Giovanni também não tinha nenhum irmão Andrea. Não existe assim qualquer relação familiar entre o Almirante, que não era o Cristoforo, e estes dois Colombos. Poderia ter ficado no ar a suposição de uma relação de parentesco, derivada da eventual ligação entre o Almirante e Georges Bissipat (Colombo-o-Jovem), tal como foi depois enunciada por D. Hernando na Historie, e uma ligação destes dois irmãos à localidade de Fontenoy-le-Château, em França.

Documentos, escritos por terceiros, com a deturpação ou erros de simpatia ou transcrição nos apelidos dos criados, nada provam quanto à genovesidade do Almirante.

E o Prof. Thomaz consegue mais um milagre na construção de um círculo virtuoso:

O Almirante Colon seria um Colombo de Génova, onde havia famílias Colombo, das quais escolheu uma, a dos tecelões. E assim, ao Juan Antonio chamaram Colombo por "ser primo" do Almirante.

Mas depois, mais tarde, ao Juan Antonio e ao seu irmão Andrea chamaram Colon também por "serem primos" do Almirante.

Ou seja, ajustava-se o apelido dos criados para harmonizar com o apelido do Almirante. O que era preciso é que parecessem primos do Almirante!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 56 ('Prova' 89)

{89} - pág. 686:

Foi então que redistribuiu os comandos dos navios (3ª viagem) , confiando o de um dos que deviam rumar direitos às Antilhas a Pedro de Arana, irmão da sua barregã Beatriz, o de outros a Alonso Sánchez de Carvajal e o terceiro a Juan Antoño Columbo, ginovés, deudo del Almirante, na expressão de Las Casas, hombre muy capaz y prudente y de autoridad.

 

ACC:

Como se viu, António Colombo, pai de Giovanni, não tinha nenhum filho Andrea, pelo que se Andrea era irmão de Juan António, então este Juan António não era o Giovanni Colombo.

“Reberendo y muy deboto padre. diego mendez es venido// de la corte. Don Diogo queda bueno. el senor adelantado y Don Hernando non// eran llegados. yo os le enbiare alla con las nuebas de todo yo// non sey ya que diga a my deseu de veros y comunicar algo que non// es de pendula. las escrituras que teneys querrialas ver y esses// priuilegios querria mandar a hazer vna casa de corcha enforrada de çera// pidos por merçed que si el Donato aquel hombre honrrado oviere de// venir aca que con el me enbieys todo o con andrea hermano de Juan antonio// portador desta. de my mal cada dia estoy mejor gracias a nuestro señor// al padre priol en su merçed mencomiendo y de todos eses religiosos// fecha oy sabado. iiii. de henero// alo que vuestra Reuerencia// mandare// .S. // .S. A .S. // X M Y// : Xpõ FERENS ./.”

(THACHER, Vol III, 387.)    

E o filho de António Colombo, Giovanni (com o diminutivo Gianetto) foi colocado como aprendiz de alfaiate em 1460, pelo que, sendo alfaiate também não poderia saber capitanear um navio.

Este Giovanni Colombo fez uma relação de terras num acto notarial em Génova, pelo notário Baldassare di Coronato, em 10 de Fevereiro de 1500 (Cf. Raccolta, Parte II, Vol. I, pags. 49,50, 283), enquanto ainda decorria a tal terceira viagem onde estava Juan António Colombo (Maio de 1498 a Novembro de 1500), embora este tenha sido provavelmente recambiado para Castela em Março de 1500, por se ter juntado ao grupo revoltoso de Roldán.

O acto notarial de 10 de Fevereiro demonstra que Giovanni Colombo não era o Juan António Colombo. Juan António Colombo não era assim primo de Cristoforo Colombo e muito menos primo do Almirante Colon.

Juan Antonio 'Colombo' era de Fontenoy-le-Château, povoação que pertencia a Philippa de la Mark neta de Georges Bissipat (Colombo-o-Jovem) e daí provavelmente o apelido de Colombo.

Poderia, inclusive, ser ainda um parente do próprio Georges Bissipat.

No testamento de D. Hernando se refere este Juan Antonio, como tendo sido seu criado e adiantando que era de Fontaneto (Fontenoy) lugar do Duque de Lorena (Lorraine) para os lados da Borgonha.

“Mando que se sepa por via de mercaderes franceses ó borgoñones, por que via segura se podrán inviar y se envien nueve mill é quatrozientos é sesenta é un mrs. á los herederos de Juan Antonio ... criado mio que falleció en mi casa, que era de Fontaneto, lugar del duque de Loringe, que es házia Borgoña.”

(HARRISSE, Henry, Don Fernando Colon Historiador de su Padre, Sevilla, 1871, 130.)    

Juan António, depois de ter sido capitão de navios para o Almirante Colon foi Mordomo-mor de D. Diogo Colon e após a morte deste foi transferido para a casa de D. Hernando.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 55 ('Prova' 88)

 {88} - pág. 685:

O primo João António

Entretanto haviam chegado a Génova novas do sucesso das duas primeiras viagens colombinas e do prestígio que o descobridor alcançara ante os reis e a nação. Foi nesse contexto que a 11.X.1496 seus primos Giovanni, Matteo e Amighetto Colombo, filhos de seu tio paterno Antonio Colombo {88}, decidiram enviar um deles a Espanha, a encontrar o Almirante, comprometendo-se por escritura notarial a partilhar as despesas da viagem, bem assim como os fundos que Giovanni, o enviado, eventualmente recuperasse em Espanha – o que, a não ser que tivessem sido responsabilizados pelas dívidas de Domenico, parece constituir um eufemismo para designar as mercês que esperavam obter do primo enriquecido.

 

 ACC:

Embora não seja claro o que é que o Giovanni pretenderia recuperar em 1496, visto que os genovistas alegam que o Cristoforo Colombo já não estaria em Génova desde antes de 1476 e não se conhece nenhum registo de dívida sua aos três irmãos ou ao pai deles, o acto notarial dos três irmãos está descrito (Cf. Raccolta, Parte II, Vol. I, pag. 161) e, no caso de realmente existir o seu original, é plausível que o tenham feito por ter corrido o boato de que o Almirante era o tecelão Cristoforo. Este acto notarial indica também que o tecelão Cristoforo não estaria em Génova nesta data.

Entre a data deste acto notarial e a partida do Almirante para a terceira viagem decorreu cerca de um ano e meio, o que teria sido tempo suficiente para o Giovanni Colombo ter ido a Espanha encontrar o Almirante, recuperar o que lhe fosse devido e regressar a Génova. Mas não se conhece nenhum registo de que tenha recebido nem dividido com os irmãos, pelo que fica a dúvida sobre o acto notarial.

 

Este primo João António, na opinião do Prof. Thomaz, ou Juan António, a quem o Almirante nomeou como capitão de um dos navios na terceira viagem não é o primo Giovanni do Cristoforo Colombo, pois numa carta do Almirante a Frei Gaspar de Gorricio, de Sevilha, 4 de Janeiro de 1505, de que foi portador um certo Andrea este é referido como irmão de Juan António. Nesse caso deveria este Andrea ter também subscrito o acto notarial de 1496, o que não aconteceu. Mas, na verdade, António Colombo, pai de Giovanni, não tinha nenhum filho Andrea, pelo que se Andrea era irmão de Juan António, então este Juan António não era o Giovanni Colombo.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 54 ('Prova' 87)

 {87} - pág. 682:

De qualquer forma o registo do Sello de Corte confirma tanto a existência da Instituición (de Mayorazgo) como a sua data (Sevilha, quinta feira, 22.II.1498) embora não confirme apoditicamente o seu preciso teor visto estar truncado e, na forma em que nos chegou, conter apenas o começo do documento primitivo.

... Curiosamente houve quem em 1586, em carta escrita de Madrid a 8 de Fevereiro, mandasse para Florença notícia deste sucesso:

descobriu-se cópia do testamento do almirante D. Cristóvão Colombo, que estava em poder do procurador do almirante de Aragão, que o restituiu, mas com uma folha a menos, que se conhece ter sido cortada ... Entendo que entre muitas outras coisas diz ter nascido em Génova e quer que um seu segundo filho vá habitar em Génova e tome raíz naquela república ...

 

ACC:

O que está em causa não é que o Almirante tenha feito um Mayorazgo, autenticado em 22 de Fevereiro de 1498.

A Confirmação Real de 1501 não deixa dúvidas sobre esse facto.

O grande problema, que os genovistas pretendem contornar invocando a Confirmação, é que nessa Confirmação não consta o teor da Carta de Mayorazgo propriamente dito, isto é, o clausulado definido pelo Almirante. Ora, apresentar uma Confirmação Real e em substituição das folhas onde estaria a Carta de Mayorazgo apresentar uma pretensa cópia de um rascunho com igual data, apesar de tudo emendada, não pode constituir um documento probatório.

Como o Prof. Thomaz invoca em jeito de prova favorável, situa-se em 1586 a apresentação em tribunal dessa cópia espúria, apesar de tentar mais uma vez confundir o leitor ao relatar que D. Cristóbal Colón de Cardona se apossara em 1578 dos documentos colombinos, não podendo portanto ser imputada a Baldassare Colombo a introdução do documento contrafeito nos Pleitos Sucessórios. Leva o leitor a pensar que foi D. Cristóbal de Cardona quem entregou o contrafeito ao tribunal, mas este herdeiro tinha desaparecido em 1583.

Como atrás se demonstrou a propósito da prova {86}, o Codicilo e Testamento autêntico de 1506 determinava o processo de sucessão no morgadio, excluindo dele a descendência feminina, pelo que não colhe o argumento do Prof. Thomaz, de que desaparecera o mayorazgo verdadeiro de 1498 para esconder essa cláusula. Veja-se, aliás, que a cópia espúria só difere por ser vantajosa para o pretendente genovês Baldassare Colombo.

Em 1583 desapareceu D. Cristóbal de Cardona y Colón, o que também já tinha acontecido antes com seu irmão Luís de Cardona y Colón, complicando ainda mais a situação no litígio familiar que se tinha iniciado em 1579, opondo descendentes legítimas femininas a descendentes varões bastardos, pretendentes ao morgadio do Almirante Colon.

E foi no decorrer desse litígio, após o Rei Felipe II ter dele informado os embaixadores estrangeiros, que surgiram em cena dois pretendentes italianos à herança do Almirante.

Um deles foi Baldassare Colombo, de Cuccaro Monferrato, trineto de Francisquino Colombo. Muniu-se de declaração em que quatro dezenas de testemunhas em Monferrato asseguraram que Francisquino era irmão de Domenico Colombo, pai de Cristoforo Colombo. Francisquino e Domenico seriam filhos de Lancia Colombo, dos Senhores de Cuccaro.

Baldassare apresentou-se com um outro documento, que o Prof. Thomaz afirma ser uma cópia certificada do Mayorazgo de 1498 mas que, a ser certificada, só poderia ser uma cópia da cópia do rascunho contrafeito, pois nunca se viu essa cópia.

Aliás, se existisse uma cópia certificada do Mayorazgo verdadeiro, o Prof. Thomaz não teria escrito sobre o Tio genovês, simplesmente porque isso nunca teria estado em causa.

O tribunal castelhano das Índias aceitou, mesmo assim, a hipótese de que Cristoforo Colombo descendesse dos senhores de Cuccaro e que Baldassare seria assim parente do Almirante D. Cristóvão Colon. Mas não pronunciou então qualquer decisão sobre o direito ao ‘mayorazgo’.

Baldassare, depois de mais de 20 anos de espera, morreu em Madrid deixando a sua representação no pleito a seu filho Mário. Em 1606 Mário Colombo renunciou ao pleito, regressando a Itália.

O outro candidato foi Bernardo Colombo, recusado pelo tribunal devido a apresentação de falsa genealogia.

Por explicar na História ficam ainda vários factos: a discrepância entre esta linha familiar e a linha familiar segundo a qual o tecelão Domenico Colombo, documentado pai de um Cristoforo Colombo genovês, era filho de Giovanni Colombo; a certeza e convicção nos depoimentos das quarenta testemunhas, mais de um século após a morte de Domenico Colombo, pai de Cristoforo, o qual seguramente nenhum declarante conhecera; a ausência de qualquer pretendente masculino da família dos tecelões Colombo, à qual alegadamente o 1º Almirante pertencia.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 53 ('Prova' 86)

 'Prova' {86} - pág. 678:

As primeiras cópias manuscritas do testamento de 1498 datam, como adiantámos já, do século XVI: conserva-se uma no Archivo de Indias, em Sevilha e a outra nos Archivi di Stato de Génova, e não apresentam entre si senão pequenas divergências, sobretudo de ortografia. A que se encontra em Génova foi pedida pelo governo da Sereníssima República em 1586, por intermédio do seu embaixador em Espanha, Giambattista Doria, certamente porque sabia haver cláusulas que a beneficiavam.

 

ACC:

Se o governo da Sereníssima República de Génova pediu uma cópia do testamento de 1498, como afirma o Prof. Thomaz, o que terá recebido foi uma cópia de um rascunho sem nenhum valor. Como tal de nada valeriam à Sereníssima República alegadas cláusulas que a beneficiavam. Na realidade, o verdadeiro e desaparecido Mayorazgo de 1498, tinha sido substituído por outro, datado de 1 de Abril de 1502. Considera o Prof. Thomaz (pág. 674) que este documento de 1502 apenas revogou as cláusulas testamentais puramente privadas de 1498, mantendo-se o morgadio a reger-se pelo disposto em 1498.

No entanto esta opinião colide com o declarado pelo próprio Almirante no seu Testamento e Codicilo autenticado por notário em 19 de Maio de 1506 onde consta que em 1502 tinha feito um novo Mayorazgo (sic):

“Cuando parti de Espana el ano de quinientos e dos yo fice una ordenanza e mayorazgo de mis bienes, … La cual ordenanza apruebo e confirmo por esta, la cual yo escribo a mayor cumplimiento e declaracion de mi intencion. La cual mando que se cumpla ansi como aqui declaro e se contiene, que lo que se cumpliere por esta, no se faga nada por la otra, porque no sea dos veces.”

 

E diz ainda que, para não haver repetição de cláusulas, o que se cumprir seguindo o testamento de 1506 não se faça pelo Mayorazgo de 1502. Ou seja, na prática todas as suas vontades são condensadas no documento de 1506, onde obviamente, não se encontra nenhuma das disposições espúrias que constam na cópia contrafeita.

Tanto mais contrafeita, que nenhuma das disposições que beneficiariam Génova foi alguma vez cumprida pelos herdeiros. A única conclusão é que não existiram essas disposições.

Basta uma simples comparação entre as cláusulas do Testamento verdadeiro e autenticado de 1506 e as cláusulas da pretensa cópia do rascunho do Mayorazgo de 1498 para se constatar que não há qualquer alteração nas disposições sucessórias, nomeadamente na ordem de sucessão e na exclusão das mulheres, há algumas diferenças, naturais, nas percentagens e montantes a atribuir, mantém-se a disposição de erigir uma igreja na ilha Espanhola, inclui-se uma nova disposição de atribuir uma pensão a Beatriz Enriquez, mas como que por artes mágicas, desaparecem em 1506 todas as cláusulas espúrias que estabeleciam alguma ligação com Génova no documento contrafeito de 1498. E, claro, não se inclui no legado de 1506 a oitava parte das terras, porque, evidentemente, tal não fazia parte dos bens.

Desta forma, o único benefício para a Sereníssima República de Génova acabou por ser a perpetuação, até aos nossos dias, do logro infundido pela contrafacção.