'Prova' {112} - pág. 756:
A 27.XII.1504 (Colombo) queixou-se por carta a Nicoló
de Oderigo de não ter recebido nem resposta deste nem da Banca às
suas cartas de 1502, o que lhe pareceu que descortesia fue deses
Señores, tanto mais que soubera por Messer Francisco de Ribarol, que as
dádivas haviam chegado a salvamento {112}
ACC:
Esta outra carta do Almirante está publicada na Raccolta, P. I, Vol. III, Série A, Tav. XXXIIII, com transcrição na pág. 34. É também apresentada como sendo dirigida a Oderigo embora só seja reproduzido o interior e não o reverso da folha, no qual estaria o nome do destinatário. É considerada autógrafa, isto é, escrita pela mão de Colon:
«Virtuoso Senhor,
Quando eu parti para a viagem de onde agora regresso
falei-vos longamente.
Creio que de tudo isto vos recordareis bem.
Julguei que quando chegasse eu encontraria as vossas
cartas e ainda pessoa com palavra [alguém que lhe falasse pessoalmente].
Também nesse tempo deixei a Francisco de Ribarol um
livro de treslados de cartas e outro dos meus privilégios numa mala de couro
cordovês tingido com o seu fecho de prata e duas cartas para o Ofício de S.
Georgi ao qual atribuía eu o décimo da minha renda para desconto nos direitos
do trigo e de outros abastecimentos.
De nada disto tudo sei notícias.
O senhor Francisco [Ribarol] diz que tudo chegou aí
em segurança.
Se assim é, foi descortesia desses senhores de S.
Georgi por não terem dado resposta nem por isso terem acrescentado a fazenda e
isto é motivo para se dizer que quem serve a todos não serve a ninguém.
Outro livro dos meus privilégios como o sobredito
deixei em Cádiz a Francisco Catânio, portador desta, para que também vo-lo
enviasse.
Que um e outro fossem colocados em bom recato onde
vos parecesse bem.
Recebi uma carta do Rei e da Rainha meus senhores
nesse tempo da minha partida.
Ali está escrita; vêde-la que veio muito boa.
Desejo ver [receber] vossas cartas e que falem
cautelosamente do propósito em que ficamos.
…
De Sevilha a 27 de Dezembro de 1504»
Esta outra carta,
para além de ser considerada autógrafa, afigura-se também verosímil. O
Almirante escreve a Oderigo após ter regressado da 4ª viagem e relembra Oderigo
que falaram antes da partida para essa viagem, que ocorreu em 11 de Maio de
1502.
Em 21 de Março de
1502 tinha o Almirante escrito a Oderigo informando-o de que lhe enviava pelo
portador Francisco de Ribarol o Livro das suas Escrituras e cópias de cartas. E
que lhe enviaria um segundo Livro dos Privilégios que estava a ser terminado.
Agora, nesta
segunda carta mostra-se descontente por não ter recebido nenhuma resposta de
Oderigo, quer por carta quer por mensageiro em pessoa.
Sabe que Francisco
de Ribarol entregou o primeiro Livro a Oderigo e que o segundo Livro seguiu com
Francisco Catânio.
Nesse tempo em que
estava de partida Colon recebeu uma carta dos Reis, na sua opinião, muito boa.
Isto é, essa carta correspondia à insistência do Almirante sobre os seus
direitos. Ora, efectivamente em carta de 14 de Março os Reis prometem-lhe
mercês.
Colon pede a Oderigo que lhe escreva, mas que seja cauteloso nas palavras, porque o assunto é sigiloso, na carta não deve mencionar-se qual o assunto tratado entre o Almirante e Oderigo.
Ou seja, reforça que o objectivo do Almirante é que as cópias do Livro dos Privilégios fiquem em segurança [porque do que lá está escrito depende o futuro dos seus herdeiros].
Por incrível que pareça, não existiu sequer uma
carta do Ufficio de S. Georgio a tentar retomar as conversas e beneficiar a
República com a ‘generosa oferta’ depois de Colon se ter queixado a Oderigo em
1504.
Patética é a
afirmação do Prof. Thomaz, quando escreve:
“… tanto
mais que soubera por Messer Francisco de Ribarol, que as dádivas haviam chegado
a salvamento.”
Dádivas? O Livro dos Privilégios e umas cartas são
dádivas, ou o Prof. Thomaz quer iludir ainda mais os seus leitores menos
atentos?
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