domingo, 6 de março de 2022

Colombo genovês, o tio errado #67 ('Prova' 111)

 'Prova' {111} - pág. 755:

A 8 de Dezembro a Banca respondeu-lhe com uma carta que começa assim:

Illustri et preclarissimo viro Domino Christofaro, Maiori Admirato Maris Oceani, Visse Regi et Gubernatori Generali Insularum et Continentis Assie et Indiarum cerenissimorum Regis et Regine et Capitaneo Generali Maris et Consiliario

Illustris vir et clarissime amantissimeque concivis et domine memorandissime [ou seja: "ilustre varão, claríssimo e amantíssimo concidadão, e mui memorável senhor"]

 

ACC:

A resposta do Ufficio di San Giorgio à(s) carta(s) do Almirante tem a particularidade de se tratar de uma carta dirigida a D. Diogo Colon na qual se diz que vai inclusa outra carta dirigida a seu pai, a qual o Prof. Thomaz traduziu e publicou. Estão datadas de 8 de Dezembro de 1502. Henry Harrisse publicou ambas as cópias.

Nenhuma das cartas existe nos arquivos de Espanha nem a elas há qualquer referência pelo Almirante ou pelo seu filho. Pelo contrário, Cristóvão Colon mostrou o seu desagrado por não ter obtido resposta, como se verá.

A “explicação” de Harrisse para a tardia resposta do Ufficio di San Giorgio é de que Oderigo não teria recebido naquela ocasião o Livro dos Privilégios e as cartas que lhe levou Francisco de Ribarol, porque foi novamente nomeado para se deslocar a Castela em 9 de Abril e só terá regressado a Génova meses depois e só nessa altura entregou ele as cartas ao Ufficio di San Giorgio.

Isto apesar de Ribarol ter confirmado a Colon que tinha entregado tudo ao destinatário, como se verá.

Pelos vistos, uma viagem entre Sevilha e Génova era bastante mais demorada que uma viagem até ao Novo Mundo!

Do extenso arrazoado das cartas que não chegaram ao destino extraímos, simplificadamente, o seguinte:

- Na carta a D. Diogo Colon:

…E excelência do Almirante vosso pai pela sua carta datada de 2 de Abril… pois parece que ele (O Almirante) ordenou a Vossa Excelência para enviar para esta cidade, cada ano, um décimo do rendimento a que vós tendes direito, com o objectivo de eliminar ou reduzir o imposto cobrado no milho, vinho e outras mercadorias…

Na carta ao Almirante:

Ilustríssimo concidadão senhor dom Cristoforo Almirante maior do Mar Oceano…

Fiquei muito grato pelo afecto que demonstrais à vossa primeira pátria, pela qual tendes singular amor e caridade,,, tendo ordenado ao vosso filho …que da décima de cada renda sua cada ano deverá nesta cidade providenciar ao desconto da taxa de trigo, vinho e outras vitualhas …

Note-se que apenas é referida uma carta e que o Uffício refere em ambas que a décima se destina a beneficiar a cidade, algo que o Almirante não escreveu.

Destaque-se que o chanceler de S. Giorgio era Antonio Gallo, esse mesmo que escreveu que conhecia muito bem a família Colombo e que “os irmãos Cristoforo e Bartolomeo Colombo, lígures de nação, nascidos em Génova de pais plebeus, e que viviam da tecelagem, em que o pai foi tecelão e os filhos, num tempo, cardadores, alcançaram em toda a Europa, nos tempos a que chegámos, uma grande celebridade pela sua coragem e por um descobrimento que será um marco na história da humanidade…”

Estamos portanto perante uma grande embrulhada, em que das duas cartas enviadas simultaneamente pelo Almirante (desde Sevilha) ao Ufficio di San Giorgio (em Génova), apenas há (em Génova) cópias de duas cartas de resposta a apenas uma das enviadas (não havendo qualquer menção à outra), as quais respostas por acaso também não chegaram aos destinatários (Diogo Colon e seu pai).

Sem comentários: