sexta-feira, 4 de março de 2022

Colombo genovês, o tio errado #65 ('Provas' 107-109)

'Prova' {107} - pág. 714:

(Las Casas) Transcreve em seguida o que escrevera Colombo, concluindo a citação com um breve comentário: todo estas son palabras del Almirante, con su humilde y falto de propriedad de vocablos, estilo, como quién en Castilla no habia nacido.

ACC:

E qual é a novidade por Las Casas comentar que ao Almirante faltavam vocábulos, como faltavam a quem não tinha nascido em Castela?

Isto é para o Prof. Thomaz uma prova da genovesidade do Almirante?

  

'Provas' {108 e 109} - pág. 750:

Vendo cerceados pelos Reis Católicos os privilégios que lhe haviam outorgado em Santa Fé, decidiu então entregar cópia deles a Nicoló de Oderigo, embaixador da Senhoria de Génova na corte espanhola, depositando os originais na Cartuxa de Santa Maria de las Cuevas, em Sevilha {108}

Conservam-se duas cartas de Colombo a Oderigo, escritas ambas em Sevilha, datada uma de 21.III.1502 e outra de 27.XII.1504, em que se refere tanto aos cartulários autenticados que lhe mandara entregar como a dois cartapácios de cartas missivas que mandara copiar, hoje perdidos, de que confiou um exemplar ao banqueiro genovês de Sevilha Francisco de Ribarol, enviando outro para Génova, ao antigo embaixador, por intermédio de Franco Catanio, também conhecido por Francisco Cataño, igualmente genovês, mercador estante em Cádiz. {109}

ACC:

Uma das acima mencionadas cartas do Almirante, apresentada como sendo dirigida a Oderigo (embora só seja reproduzido o interior e não o reverso da folha, no qual estaria o nome do destinatário) encontra-se publicada na Raccolta, P. I, Vol. III, Série A, Tav. XIII, com transcrição na pág. 13. É considerada autógrafa, isto é, escrita pela mão de Colon:

«Senhor,

A saudade em que nos deixaste não se pode descrever.

O livro das minhas escrituras dei ao senhor Francisco de Ribarol para que vo-lo envie com outro treslado de cartas mensageiras.

Do recato e do lugar em que o colocardes vos peço por mercê para o escreverdes a Dom Diogo.

Outro tal [livro de escrituras] se acabará e se vos enviará pela mesma forma e pelo mesmo senhor Francisco. Nele encontrareis escritura nova.

Suas Altezas prometeram dar-me tudo o que me pertence e de pôr em possessão de tudo a Dom Diogo como Vicerei. …

…Feita em Sevilha a 21 de Março de 1502 »

 

A carta, para além de ser considerada autógrafa, afigura-se verosímil. O Almirante escreve a Oderigo informando-o que entregou a Ribarol o Livro das escrituras para que este o envie a Oderigo, o qual deve guardar o Livro em lugar seguro e depois informar Dom Diogo Colon sobre qual foi esse lugar.

Está a ser terminado outro Livro de privilégios que será enviado pela mesma forma. Nele Oderigo irá encontrar uma escritura nova [refere-se naturalmente ao Testamento Mayorazgo de 1502, que Colon iria fazer em 1 de Abril, antes de partir para a 4ª viagem em 11 de Maio]. Era essa a escritura que estava em preparação.

Note-se que esta nova escritura, este Testamento mayorazgo de 1502, acabou por desaparecer.

Uma outra conclusão sobre o conteúdo da carta é de que o Almirante não entrega os Livros dos Privilégios a Oderigo para que este os faça chegar à República de Génova; entrega-lhos para que ele os guarde em lugar recatado! Mas deverá informar Dom Diogo Colon!

Portanto é lógico concluir que o fulcro, o importante para Colon não é Génova, é o segredo, é que o Livro fique em segurança!

Confirma-se que não foram entregues por Oderigo à República de Génova. Ficaram à sua própria guarda! Pois as duas cópias de Oderigo foram vendidas por um descendente seu à República de Génova em 1670.

Não constando o Mayorazgo de 1502 nesses dois exemplares do Livro dos Privilégios, compreende-se que não conste no exemplar enviado nesta primeira remessa de Março porque ainda não fora efectuado, mas ao não constar no exemplar que seria enviado posteriormente, como diz o Almirante, a tal nova escritura ou não chegou a ser incluída ou foi depois subtraída em Génova.

O Prof. Thomaz falta pois, mais uma vez, à verdade quando escreve na pág. 751:

“Dos originais dos privilégios de Colombo tirara o tabelião Martim Rodriguez, a 5 de Janeiro de 1501, na presença do alcalde de Sevilha, quatro cópias autenticadas, de que apenas duas chegaram aos nossos dias. Estiveram até 1670 em poder dos descendentes do embaixador Oderigo – que, pelos vistos as não remeteu integralmente ao doge nem ao conselho, a quem sem dúvida eram destinados – vindo apenas naquela data a ser entregues, agora como antigualha, à Serenissima Repubblica di Genova.”

Não há na carta absolutamente nenhuma indicação de que a remessa dos documentos se destine ao doge ou ao conselho genovês. Pelo contrário, está bem explícito que o Almirante pede a Oderigo para os guardar recatadamente em lugar seguro e informar seu filho D. Diogo de qual foi esse lugar.

A segunda carta será objecto de análise mais adiante, na 'prova' {112}. 

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