domingo, 19 de dezembro de 2021

Colombo genovês, o tio errado #15 ('Provas' 27, 28)

'Provas' {27} e {28} - pág. 157:

Os legados constam igualmente da cópia autenticada existente no arquivo dos Duques de Verágua, publicada por Navarrete. Seja como for, D. Diego Colón sentiu-se moralmente obrigado a satisfazer os legados estabelecidos por seu progenitor; e como não o fizera no primeiro testamento, encomendou genericamente a seus herdeiros que o fizessem. E, como catorze anos depois continuava vivo mas não se lembrara ainda de pagar a maioria deles, num segundo testamento feito em Santo Domingo em 8.IX.1523, volta a encomendar a seus herdeiros que satisfaçam os legados, explicitando {28}:

Primeramente a los herederos de Geronimo del Puerto... Antonio Tobaço... herederos de Luís Centurión e Secondo ... herederos de Paulo de Negrón ... 

 

ACC:

Pelo teor do memorial na sua versão completa, que é reproduzida na pág. 156 do livro, não é nada evidente que se trate de pequenas dívidas de Cristóvão Colombo para com a família dos seus antigos patrões.

Com efeito inicia-se assim:

Relación de ciertas personas a quien yo quiero que se den de mis bienes, sin que se le quite cosa alguna d’ello. Hásele de dar en tal forma que no se sepa quién se las manda dar:

E num outro item:

A un judio que morava a la puerta de la judería en Lisboa, o a quien mandare un sacerdote, el valor de médio marco.


Não é evidente, nem demonstrável, que os destinatários fossem da família de antigos patrões de Cristóvão Colombo, simplesmente porque não se conhece nenhuma prova documental sobre essa relação de dependência laboral.

Até aqui, essa alegada dependência laboral, foi invocada pelo autor na pág. 147, a propósito da expedição a Xío:

“Outra hipótese é ter partido na expedição imediata, que largou de Génova em Setembro seguinte, transportando reforços para a ilha, ameaçada pelos Otomanos. Nesta se integrou um navio de Paolo di Negro, de que Colombo seria mais tarde agente em Lisboa, e outro de Nicoló Spinola, talvez o mesmo a cujo bordo viajaria Colombo no ano imediato, quando adergou naufragar ao largo do Cabo S. Vicente e assim aterrar em Portugal; daí que nos pareça ser mais provável que tenha tomado parte nesta segunda expedição, já como agente destes seus patrões.

É, de facto, provável que o jovem Cristóvão estivesse já em 1474-75 ao serviço daquelas firmas, pois data de 1472 o último documento conhecido que o classifica de laneiro.”

 

Alude assim a Paolo di Negro, de quem um Cristoforo Colombo seria mais tarde agente enviado à Madeira, baseando-se no chamado Documento Assereto, altamente duvidoso e que se abordará oportunamente no lugar respectivo {32}; e a Nicoló Spinola, cuja hipotética relação com o Almirante só existe na interpretação especulativa do autor, como se mostrou anteriormente.

As quantias a entregar são referidas na moeda Ducado, à excepção do meio marco de prata. O Ducado era uma das moedas de Castela, onde o Almirante faleceu e onde teria escrito esse Memorial dos Pagos.

No entanto, algumas quantias são referidas primeiramente em Reais de Portugal, depois convertidos para Ducados.

A generalidade dos personagens a quem o Almirante manda entregar as quantias está referenciada a Lisboa.

Um dos personagens em Lisboa está inclusivamente referenciado cronologicamente a 1482.

Tudo parece apontar, portanto, para situações ocorridas em Lisboa/Portugal antes da ida para Castela. A data de 1482 aponta para o período em que o Almirante navegava para a Mina e Guiné.

Naturalmente que quase todos os legados poderiam corresponder a dívidas contraídas, exceptuando o destinado ao judeu ou a quem mandasse um sacerdote.

A principal questão que se suscita porque é que o Almirante não queria que se soubesse quem mandava dar essas quantias se eram dívidas que Cristoforo Colombo não tinha pago?

Não haveria motivos para que o Almirante, se fosse ele o autor das frases insertas no alegado Mayorazgo de 1498 que o transformam num Cristoforo Colombo cidadão natural de Génova e circulando já notícias sobre as origens humildes deste personagem, escondesse neste memorial que estava a honrar as suas dívidas.

Pelo contrário, não tendo sido o Almirante o autor do Mayorazgo (na versão que se conhece), nem tendo nenhuma relação com a família que lhe inventaram, poderia ter fortes razões para não revelar.

Porque quem tinha contraído essas dívidas não era Cristoforo Colombo! Era o navegador X que mais tarde veio a ser o Almirante.

E o Almirante queria continuar a manter a sua verdadeira identidade em segredo! O que terminaria se mandasse pagar as dívidas do navegador X.

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