'Provas' {27} e {28} - pág. 157:
Os legados constam igualmente da cópia autenticada
existente no arquivo dos Duques de Verágua, publicada por Navarrete. Seja
como for, D. Diego Colón sentiu-se moralmente obrigado a satisfazer os
legados estabelecidos por seu progenitor; e como não o fizera no primeiro
testamento, encomendou genericamente a seus herdeiros que o fizessem. E, como
catorze anos depois continuava vivo mas não se lembrara ainda de pagar a
maioria deles, num segundo testamento feito em Santo Domingo em 8.IX.1523,
volta a encomendar a seus herdeiros que satisfaçam os legados, explicitando {28}:
Primeramente a los herederos de Geronimo del Puerto...
Antonio Tobaço... herederos de Luís Centurión e Secondo ... herederos de Paulo
de Negrón ...
ACC:
Pelo teor do memorial na
sua versão completa, que é reproduzida na pág. 156 do livro, não é nada
evidente que se trate de pequenas dívidas de Cristóvão Colombo para com a
família dos seus antigos patrões.
Com efeito inicia-se assim:
Relación de
ciertas personas a quien yo quiero que se den de mis bienes, sin que se le
quite cosa alguna d’ello. Hásele de dar en tal forma que no se sepa quién se
las manda dar:
E num outro item:
A un judio que morava a la puerta de la judería en Lisboa, o a quien mandare un sacerdote, el valor de médio marco.
Não é
evidente, nem demonstrável, que os destinatários fossem da família de antigos
patrões de Cristóvão Colombo, simplesmente porque não se conhece nenhuma prova
documental sobre essa relação de dependência laboral.
Até aqui, essa
alegada dependência laboral, foi invocada pelo autor na pág. 147, a propósito
da expedição a Xío:
“Outra hipótese
é ter partido na expedição imediata, que largou de Génova em Setembro seguinte,
transportando reforços para a ilha, ameaçada pelos Otomanos. Nesta se integrou
um navio de Paolo di Negro, de que Colombo seria mais tarde agente em Lisboa, e
outro de Nicoló Spinola, talvez o mesmo a cujo bordo viajaria Colombo no
ano imediato, quando adergou naufragar ao largo do Cabo S. Vicente e assim
aterrar em Portugal; daí que nos pareça ser mais provável que tenha
tomado parte nesta segunda expedição, já como agente destes seus patrões.
É, de facto, provável
que o jovem Cristóvão estivesse já em 1474-75 ao serviço daquelas firmas, pois
data de 1472 o último documento conhecido que o classifica de laneiro.”
Alude assim a
Paolo di Negro, de quem um Cristoforo Colombo seria mais tarde agente enviado à
Madeira, baseando-se no chamado Documento Assereto, altamente duvidoso e que se
abordará oportunamente no lugar respectivo {32}; e a Nicoló Spinola, cuja
hipotética relação com o Almirante só existe na interpretação especulativa do
autor, como se mostrou anteriormente.
As quantias a
entregar são referidas na moeda Ducado,
à excepção do meio marco de prata. O Ducado era uma das moedas de Castela, onde
o Almirante faleceu e onde teria escrito esse Memorial dos Pagos.
No entanto,
algumas quantias são referidas primeiramente em Reais de Portugal,
depois convertidos para Ducados.
A generalidade
dos personagens a quem o Almirante manda entregar as quantias está referenciada
a Lisboa.
Um dos
personagens em Lisboa está inclusivamente referenciado cronologicamente a 1482.
Tudo parece
apontar, portanto, para situações ocorridas em Lisboa/Portugal antes da ida
para Castela. A data de 1482 aponta para o período em que o Almirante navegava
para a Mina e Guiné.
Naturalmente
que quase todos os legados poderiam corresponder a dívidas contraídas,
exceptuando o destinado ao judeu ou a quem mandasse um sacerdote.
A principal
questão que se suscita porque é que o Almirante não queria que se soubesse quem
mandava dar essas quantias se eram dívidas que Cristoforo Colombo não tinha
pago?
Não haveria
motivos para que o Almirante, se fosse ele o autor das frases insertas no
alegado Mayorazgo de 1498 que o transformam num Cristoforo Colombo cidadão
natural de Génova e circulando já notícias sobre as origens humildes deste
personagem, escondesse neste memorial que estava a honrar as suas dívidas.
Pelo
contrário, não tendo sido o Almirante o autor do Mayorazgo (na versão que se
conhece), nem tendo nenhuma relação com a família que lhe inventaram, poderia
ter fortes razões para não revelar.
Porque quem
tinha contraído essas dívidas não era Cristoforo Colombo! Era o navegador X que
mais tarde veio a ser o Almirante.
E o
Almirante queria continuar a manter a sua verdadeira identidade em segredo! O
que terminaria se mandasse pagar as dívidas do navegador X.
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