terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Colombo genovês, o tio errado #17 ('Prova' 31)

 

'Prova' {31} - pág. 161:

O que Colombo diz das enormes marés que na zona (ultra Tile) se registavam corresponde ao natural espanto de um homem do Mediterrâneo, onde a sua amplitude se escalona entre os 20 e os 50 cm, consoante os lugares - e coaduna-se assim inteiramente com a origem genovesa do futuro achador do Novo Mundo.

 

ACC:

O Prof. Thomaz reproduz na pág. 160 o texto que afirma estar anotado num escólio à margem do exemplar da Historia Rerum … de Eneas Sílvio. No entanto, em nenhuma das 861 anotações autógrafas do Almirante na Historia Rerum, publicadas na Raccolta, se encontra esse texto. Tal como não se encontra em nenhuma das 898 anotações autógrafas no Tratado Imago Mundi, de Pierre d’Ailly, nem em nenhuma das 366 anotações no Livro ‘Viagens’ de Marco Polo, nem nas 24 na Historia de Plínio, tampouco nas 436 no Vidas Paralelas, de Plutarco. Não consta assim de nenhuma anotação autógrafa publicada, mas é mencionado por Hernando Colon, no capítulo IV da Historie, como tendo sido visto numa memória ou anotação de seu pai, sendo repetido por Las Casas.

D. Hernando pode ter ou não trocado a unidade de medida, substituindo pés por braças. Se fossem pés, então a amplitude daquelas marés seria efectivamente idêntica às máximas amplitudes observadas no planeta, de 16,3 metros.

Se D. Hernando, porém, escreveu correctamente a unidade, certamente que o Almirante exagerou, o que não era raro, ao referir a amplitude das marés que presenciou. Mesmo que ele fosse um homem do Mediterrâneo como crê o autor, sabe-se que navegou no Atlântico nos navios dos descobrimentos, e as marés atlânticas são incomparavelmente de maior amplitude que as mediterrânicas. Como tal, quem só tiver observado as minúsculas marés mediterrânicas fica admirado com marés relativamente grandes no Atlântico. Mas quem já estiver familiarizado com estas, será levado a ficar espantado e a exagerar a amplitude de outras ainda maiores como as que terá visto o Almirante.

Fica por determinar até onde chegou a expedição mencionada na Historie por D. Hernando, embora o Prof. Thomaz se esmere na tentativa de apoucar o relatado. Presume que se trata da mesma expedição comercial armada em Génova em Dezembro de 1476 com destino às Ilhas Britânicas e assim conclui (pág.160) que:

“Uma vez que para lá da Islândia não havia praticamente terra alguma povoada com que se pudesse traficar, não se compreende porque razão andaria uma expedição comercial e não de exploração geográfica a fazer cem léguas mais além, em pleno inverno … É verdade que a 73º N e a c. 100 léguas para lá da Islândia se situa um ponto da costa da Gronelândia; não se vê razão para que o objectivo de uma viagem de comércio fosse a Gronelândia, ao tempo apenas povoada de esquimós.”

 Embora aflore o tema, o Prof. Thomaz rapidamente descarta a hipótese de se ter tratado efectivamente de uma expedição de exploração geográfica, desvalorizando relatos e crónicas que mencionam uma expedição luso-dinamarquesa promovida pelo rei Cristiano I da Dinamarca por solicitação do rei português D. Afonso V, comandada por Johannes Scolvus e que se iniciou em 1476.

Amarrado à narrativa do envolvimento do seu Colombo nos navios genoveses atacados em 1476, o Prof. Thomaz efabula os acontecimentos que se seguiram de modo a tentar manter de pé a sua história, o que o leva a desprezar outros factos que melhor se adequam e melhor reflectem a realidade.

Sem comentários: