'Prova' {31} - pág.
161:
O que Colombo diz das enormes marés que na zona (ultra
Tile) se registavam corresponde ao natural espanto de um homem do
Mediterrâneo, onde a sua amplitude se escalona entre os 20 e os 50 cm,
consoante os lugares - e coaduna-se assim inteiramente com a origem genovesa do
futuro achador do Novo Mundo.
ACC:
O Prof. Thomaz reproduz na pág. 160 o texto que afirma
estar anotado num escólio à margem do exemplar da Historia Rerum … de Eneas Sílvio. No entanto, em nenhuma das 861
anotações autógrafas do Almirante na Historia
Rerum, publicadas na Raccolta, se encontra esse texto. Tal como não se
encontra em nenhuma das 898 anotações autógrafas no Tratado Imago Mundi, de Pierre d’Ailly, nem em
nenhuma das 366 anotações no Livro
‘Viagens’ de Marco Polo, nem nas 24 na Historia
de Plínio, tampouco nas 436 no Vidas Paralelas,
de Plutarco. Não consta assim de nenhuma anotação autógrafa publicada, mas é
mencionado por Hernando Colon, no capítulo IV da Historie, como tendo sido visto numa memória ou anotação de seu
pai, sendo repetido por Las Casas.
D. Hernando pode ter ou não trocado a unidade de
medida, substituindo pés por braças. Se fossem pés, então a amplitude daquelas
marés seria efectivamente idêntica às máximas amplitudes observadas no planeta,
de 16,3 metros.
Se D. Hernando, porém, escreveu correctamente a
unidade, certamente que o Almirante exagerou, o que não era raro, ao referir a
amplitude das marés que presenciou. Mesmo que ele fosse um homem do
Mediterrâneo como crê o autor, sabe-se que navegou no Atlântico nos navios dos
descobrimentos, e as marés atlânticas são incomparavelmente de maior amplitude
que as mediterrânicas. Como tal, quem só tiver observado as minúsculas marés
mediterrânicas fica admirado com marés relativamente grandes no Atlântico. Mas
quem já estiver familiarizado com estas, será levado a ficar espantado e a
exagerar a amplitude de outras ainda maiores como as que terá visto o
Almirante.
Fica por determinar até onde chegou a expedição
mencionada na Historie por D. Hernando, embora o Prof. Thomaz se esmere na
tentativa de apoucar o relatado. Presume que se trata da mesma expedição
comercial armada em Génova em Dezembro de 1476 com destino às Ilhas Britânicas
e assim conclui (pág.160) que:
“Uma vez que
para lá da Islândia não havia praticamente terra alguma povoada com que se
pudesse traficar, não se compreende porque razão andaria uma expedição
comercial e não de exploração geográfica a fazer cem léguas mais além, em pleno
inverno … É verdade que a 73º N e a c. 100 léguas para lá da Islândia se situa
um ponto da costa da Gronelândia; não se vê razão para que o objectivo de uma
viagem de comércio fosse a Gronelândia, ao tempo apenas povoada de esquimós.”
Amarrado à narrativa do envolvimento do seu Colombo
nos navios genoveses atacados em 1476, o Prof. Thomaz efabula os acontecimentos
que se seguiram de modo a tentar manter de pé a sua história, o que o leva a
desprezar outros factos que melhor se adequam e melhor reflectem a realidade.
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