'Prova' {33} - pág. 164:
Na terceira viagem, à partida, por saber andarem
corsários franceses nas paragens do Cabo S. Vicente, Colombo decidiu rumar
directamente de Sanlúcar de Barrameda ao Porto Santo, a tomar lenha,
refresco e água; e tendo aí chegado a uma quinta-feira seguiu no Domingo imediato
para a Madeira. En la villa le fué hecho muy buen recibimiento y mucha
fiesta, por ser allí muy cognosçido, que fué vezino d'ella en algún tiempo
{33}
ACC:
Estranha
justificação do Almirante para a sua paragem em Porto Santo e Madeira, quando
seria suposto navegar directamente para as Canárias como acontecera nas viagens
anteriores. Para evitar os corsários franceses do Cabo S. Vicente bem poderia
manter o rumo para as Canárias pois ficaria ainda mais afastado dos corsários
do que ficou desviando-se para o arquipélago da Madeira.
Basta
atentar ao registo da 1ª viagem no Diário:
Viernes, 3 de agosto
Partimos viernes tres
días de agosto de 1492 de la barra de Saltés, a las ocho horas. Anduvimos con
fuerte virazón hasta el poner del sol hacia el Sur sesenta millas, que son
quince leguas; después al Sudoeste y al Sur cuarta del Sudoeste, que era el
camino para las Canarias.
Mas
mais surpreendente e mesmo bizarro é que o Prof. Thomaz considere que o facto
de o Almirante Colon ser muito conhecido no Funchal, por ter sido ali morador,
seja uma prova da sua origem genovesa.
Esqueceu
o autor os seus próprios argumentos pois, na pág. 164 justifica que o Colombo
era muito conhecido na Madeira porque, tendo lá ido comprar açúcar (algo que
teria ocorrido em 1478 segundo o documento Assereto), não se sumiria de
seguida, ao cabo de poucos dias, a bordo da nau de Palêncio. De facto não se
sumiu de seguida, pois no seu depoimento dá a entender que lá ficou pelo menos
até Janeiro de 1479, aguardando que Paulo di Negro lhe enviasse mais dinheiro
para os pagamentos. Mas em 25 de Agosto de 1479 estava em Génova, no âmbito
desse processo movido por Centurione contra os Di Negro, para regressar a
Lisboa no dia seguinte. E na pág. 161, presume o Prof. Thomaz que tendo Colombo
chegado a Lisboa em 1476 haja prontamente achado emprego na representação das
casas comerciais para que trabalhava havia já quatro anos, e portanto em Fevereiro
de 1477 andaria pelas Ilhas Britânicas.
Como
tal, não ficou na Madeira alguns poucos dias, mas sim apenas alguns meses,
ainda que involuntariamente. Seria tempo suficiente para que o Colombo do
Assereto fosse muito conhecido e recebido em festa?
Esqueceu
também o autor que o Almirante Colon casou com a filha do capitão donatário do
Porto Santo e que ambos para lá foram viver, tendo depois mudado a residência
para o Funchal, onde, segundo vários autores, entre os quais Agostinho de
Ornellas (Memória sobre a residência de
Christovam Colombo na Ilha da Madeira, Typographia da Academia Real das
Sciencias, Lisboa, 1892), habitaram na chamada casa do Esmeraldo? O Almirante
seria então muito conhecido e recebido em festa no Funchal por ser o navegador
que casara com a filha do capitão donatário de Porto Santo e lá habitara, ou
por ser o agente comercial que ficara ‘pendurado’ sem dinheiro para pagar o
açúcar que encomendara?
1 comentário:
Enviar um comentário