domingo, 16 de janeiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 23 ('Prova' 41)

 

'Prova' {41} - pág. 228:

Nesta conformidade pode perguntar-se porque terá D. João II recusado a oferta de Colombo...

Notemos, de passagem, que a pretensão de receber o título de Dom, as esporas douradas, etc. não parece compatível com o estatuto de nobre, senão mesmo de infante português, que os nossos historiadores desportivos querem atribuir a Colombo, pois nesse caso gozaria de tudo isso por direito próprio.

 

ACC:

Consta, na versão oficializada da História, que D. João II recusou a oferta de Colombo. Há quem localize o momento dessa recusa em 1483 e o filho Hernando diz que D. João II mandou um seu navegador tentar aquela viagem logo após ter recusado a proposta de Colombo, e que por isso o Almirante tomou tanto ódio a esta terra que fugiu para Castela com o pequeno filho Diogo, em 1484.

Nada disto faz sentido porque, sabendo-se, por escritos do Almirante, que manteve conversas com o Rei a propósito das canas que chegavam de terras distantes arrastadas pelas correntes, ele nos diz que durante 14 anos o Rei não quis escutá-lo. Acontece que “não querer escutá-lo” não significa exactamente o mesmo que “recusar uma proposta”. Significa apenas que as suas opiniões divergiram. Veja-se ainda que, tendo Cristóvão Colon saído para Catela em 1485, estes 14 anos significam que as conversas com D. João II começaram em 1471, o que também contribui para desmontar a versão da chegada do Colombo a Portugal em 1476.

Além do mais, que proposta teria “Colombo” para apresentar ao rei português, se fora precisamente na correspondência de Toscanelli com a corte portuguesa que o navegador tomara conhecimento de que seria possível chegar à Asia pelo ocidente?

Note-se também que, contrariamente ao que Hernando diz, o Almirante não tomou ódio a esta terra, pois voltou depois de ter ido em 1484 deixar o pequeno filho à guarda da sua tia em Castela, saiu no final de 1485 e ainda voltou em 1488. Em ambas as ocasiões se encontrou com o Rei D. João II, partilhando segredos das navegações portuguesas em África.

Quanto ao que escreveu Las Casas e o Prof. Thomaz reproduziu na pág. 228 como sendo as exigências do navegador para efectuar a viagem para Ocidente, salta à vista de quem quiser ver, que não passam de um arrazoado transcrito, por um lado de alguns itens do contrato das Capitulaciones com os Reis Católicos, e por outro lado dos relatos do Almirante sobre as bugigangas que levava para trocar com os nativos. Bastaria que se olhasse, de boa-fé, para a exigência de obter os mesmos direitos, privilégios e prerrogativas dos almirantes de Castela, algo que um tecelão, por intrépido que então fosse, nem sonharia que existia. E note-se que no contrato das Capitulaciones é já tratado por Don.

Ou seja, não houve quaisquer exigências a D. João II porque não houve nenhuma proposta, antes houve conversas e opiniões divergentes sobre uma possível viagem. 

De qualquer forma, o que o Prof. Thomaz considera a prova {41} nada tem a ver com a pretensa genovesidade do Almirante.

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