'Prova' {41} - pág. 228:
Nesta conformidade pode perguntar-se porque terá D.
João II recusado a oferta de Colombo...
Notemos, de passagem, que a pretensão de receber o
título de Dom, as esporas douradas, etc. não parece compatível com o estatuto
de nobre, senão mesmo de infante português, que os nossos historiadores
desportivos querem atribuir a Colombo, pois nesse caso gozaria de tudo isso por
direito próprio.
ACC:
Consta, na versão oficializada da História, que D.
João II recusou a oferta de Colombo. Há quem localize o momento dessa recusa em
1483 e o filho Hernando diz que D. João II mandou um seu navegador tentar
aquela viagem logo após ter recusado a proposta de Colombo, e que por isso o
Almirante tomou tanto ódio a esta terra que fugiu para Castela com o pequeno
filho Diogo, em 1484.
Nada disto faz sentido porque, sabendo-se, por
escritos do Almirante, que manteve conversas com o Rei a propósito das canas
que chegavam de terras distantes arrastadas pelas correntes, ele nos diz que
durante 14 anos o Rei não quis escutá-lo. Acontece que “não querer escutá-lo” não significa exactamente o mesmo que “recusar uma proposta”. Significa apenas
que as suas opiniões divergiram. Veja-se ainda que, tendo Cristóvão Colon saído
para Catela em 1485, estes 14 anos significam que as conversas com D. João II
começaram em 1471, o que também contribui para desmontar a versão da chegada do
Colombo a Portugal em 1476.
Além do mais, que proposta teria “Colombo” para
apresentar ao rei português, se fora precisamente na correspondência de
Toscanelli com a corte portuguesa que o navegador tomara conhecimento de que
seria possível chegar à Asia pelo ocidente?
Note-se também que, contrariamente ao que Hernando
diz, o Almirante não tomou ódio a esta terra, pois voltou depois de ter ido em
1484 deixar o pequeno filho à guarda da sua tia em Castela, saiu no final de
1485 e ainda voltou em 1488. Em ambas as ocasiões se encontrou com o Rei D.
João II, partilhando segredos das navegações portuguesas em África.
Quanto ao que escreveu Las Casas e o Prof. Thomaz reproduziu
na pág. 228 como sendo as exigências do navegador para efectuar a viagem para
Ocidente, salta à vista de quem quiser ver, que não passam de um arrazoado transcrito,
por um lado de alguns itens do contrato das Capitulaciones com os Reis
Católicos, e por outro lado dos relatos do Almirante sobre as bugigangas que
levava para trocar com os nativos. Bastaria que se olhasse, de boa-fé, para a
exigência de obter os mesmos direitos, privilégios e prerrogativas dos
almirantes de Castela, algo que um tecelão, por intrépido que então fosse, nem
sonharia que existia. E note-se que no contrato das Capitulaciones é já tratado
por Don.
Ou seja, não houve quaisquer exigências a D. João II porque
não houve nenhuma proposta, antes houve conversas e opiniões divergentes sobre
uma possível viagem.
De qualquer forma, o que o Prof. Thomaz considera a
prova {41} nada tem a ver com a pretensa genovesidade do Almirante.
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