quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 26 ('Prova' 44)

 {44} - pág. 251:

"Eu não sou o primeiro almirante da minha família; deem-me pois o nome que quiserem que enfim David, rei sapientíssimo, foi guarda de ovelhas e depois foi feito rei de Jerusalém, e eu servo sou daquele mesmo Senhor que o alçou a tal estado." 

 

Sem negar os seus modestos começos, insinua assim um parentesco entre si e os Coulons da Gasconha, de que vários foram de facto almirantes, com quem Guillaume de Casenove, dito Coulomb le Vieux era provavelmente aparentado, de onde a sua alcunha. Com a sua consueta honestidade intelectual os nossos cubistas comprazem-se a citar a primeira parte do texto, omitindo a segunda, que lhes não convém. Nela Colombo alude indirectamente às suas origens modestas {44}, apresentando para a sua rápida ascensão social o honroso precedente do rei bíblico David.

 

ACC:

Se o Prof. Thomaz tivesse transcrito, ou pelo menos lido, o parágrafo que antecede na Historie aquele que publicou no seu livro, ter-se-ia apercebido que D. Hernando Colon escreveu:

Però io tornerò al principale nostro intento concludendo col dire che l'Ammiraglio fu uomo di lettere e di grande esperienza e che non spese il tempo in cose manuali, né in arte meccanica, come la grandezza e perpetuità dei suoi maravigliosi fatti ricercavano, e metterò fine a questo capitolo con quel ch'egli scrisse in una sua lettera alla nutrice del principe don Giovanni di Castiglia con tali parole: «Io non sono il primo ammiraglio della mia famiglia…»

Ou seja, diz expressamente que o Almirante foi homem de letras e de experiência, não gastando o seu tempo em coisas manuais nem na arte mecânica. Nega portanto que seu pai tivesse origens modestas. Note-se, no entanto, que esta frase citada por D. Hernando não consta na única carta conhecida do Almirante à ama do Príncipe D. Juan.

Quanto ao que o Prof. Thomaz entendeu como sendo uma bravata, o parentesco com o almirante Guillaume de Casenove, não passa de uma invenção do autor. Em lado nenhum dos escritos do Almirante ou de seu filho se alude a parentesco com Casenove.

Mais uma vez o Prof. Thomaz pretende ignorar o que efectivamente escreveu Don Hernando, no capítulo V da Historie:

“Quanto al principio e alla causa della venuta dell'Ammiraglio in Ispagna e di essersi egli dato alle cose del mare, ne fu cagione un uomo segnalato del suo nome e famiglia chiamato Colombo, … poiché una volta prese quattro galee grosse veneziane. … Questi fu chiamato Colombo il giovane, a differenza di un altro che avanti era stato grand'uomo per mare.”

Ou seja, Don Hernando refere-se a um parentesco com Colombo-o-Jovem, George Bissipat, que uma vez derrotou quatro galeras venezianas. O que corresponde ao ataque corsário de Agosto de 1485 no Cabo S. Vicente, a que já se aludiu, e em que o Almirante participou na armada de Bissipat.

Também resulta apenas da interpretação do Prof. Thomaz a ideia de que o Almirante não negou os seus modestos começos. O que o Almirante teria escrito, dizendo: “deem-me pois o nome que quiserem, que enfim David, rei sapientíssimo, foi guarda de ovelhas e depois foi feito rei de Jerusalém …” indicia que para o Almirante não tinha nenhuma importância se lhe chamassem Colombo e tecelão, nem que o criticassem e o acusassem de traição, como se queixa em carta à ama do príncipe, pois não era isso que o impediria de alcançar a sua missão com a ajuda de Deus. Aliás, a afirmação do Almirante demonstra mesmo que o nome que lhe davam não era o seu verdadeiro nome. Se invocou o Rei David foi porque sempre afirmou que a sua missão lhe fora confiada por Deus, para recuperar Jerusalém com o ouro que conseguisse, pelo que foi um exemplo escolhido por associação de ideias.

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