{44} - pág. 251:
"Eu não
sou o primeiro almirante da minha família; deem-me pois o nome que
quiserem que enfim David, rei sapientíssimo, foi guarda de ovelhas e depois foi
feito rei de Jerusalém, e eu servo sou daquele mesmo Senhor que o alçou a tal
estado."
Sem negar os seus modestos começos, insinua assim um
parentesco entre si e os Coulons da Gasconha, de que vários foram de facto
almirantes, com quem Guillaume de Casenove, dito Coulomb le Vieux era
provavelmente aparentado, de onde a sua alcunha. Com a sua
consueta honestidade intelectual os nossos cubistas comprazem-se a citar a
primeira parte do texto, omitindo a segunda, que lhes não convém. Nela Colombo
alude indirectamente às suas origens modestas {44}, apresentando para a
sua rápida ascensão social o honroso precedente do rei bíblico David.
ACC:
Se o Prof. Thomaz tivesse transcrito, ou pelo menos
lido, o parágrafo que antecede na Historie
aquele que publicou no seu livro, ter-se-ia apercebido que D. Hernando Colon
escreveu:
Però io tornerò al principale nostro
intento concludendo col dire che l'Ammiraglio fu uomo di lettere e di grande
esperienza e che non spese il tempo in cose manuali, né in arte meccanica, come
la grandezza e perpetuità dei suoi maravigliosi fatti ricercavano, e metterò
fine a questo capitolo con quel ch'egli scrisse in una sua lettera alla nutrice
del principe don Giovanni di Castiglia con tali parole: «Io non sono il primo ammiraglio della
mia famiglia…»
Ou seja, diz expressamente
que o Almirante foi homem de letras e de experiência, não gastando o seu tempo
em coisas manuais nem na arte mecânica. Nega portanto que seu pai tivesse
origens modestas. Note-se, no entanto, que esta frase citada por D. Hernando
não consta na única carta conhecida do Almirante à ama do Príncipe D. Juan.
Quanto ao que o Prof. Thomaz
entendeu como sendo uma bravata, o parentesco com o almirante Guillaume de
Casenove, não passa de uma invenção do autor. Em lado nenhum dos escritos do
Almirante ou de seu filho se alude a parentesco com Casenove.
Mais uma vez o Prof. Thomaz
pretende ignorar o que efectivamente escreveu Don Hernando, no capítulo V da Historie:
“Quanto al principio e alla causa
della venuta dell'Ammiraglio in Ispagna e di essersi egli dato alle cose del
mare, ne fu cagione un uomo segnalato del suo nome e famiglia chiamato Colombo,
… poiché una volta prese quattro galee grosse veneziane. … Questi fu chiamato
Colombo il giovane, a differenza di un altro che avanti era stato grand'uomo per
mare.”
Ou seja, Don Hernando refere-se a um parentesco com
Colombo-o-Jovem, George Bissipat, que uma vez derrotou quatro galeras
venezianas. O que corresponde ao ataque corsário de Agosto de 1485 no Cabo S.
Vicente, a que já se aludiu, e em que o Almirante participou na armada de
Bissipat.
Também resulta apenas da interpretação do Prof. Thomaz
a ideia de que o Almirante não negou os seus modestos começos. O que o
Almirante teria escrito, dizendo: “deem-me pois o nome que quiserem, que enfim David,
rei sapientíssimo, foi guarda de ovelhas e depois foi feito rei de Jerusalém …” indicia que
para o Almirante não tinha nenhuma importância se lhe chamassem Colombo e
tecelão, nem que o criticassem e o acusassem de traição, como se queixa em
carta à ama do príncipe, pois não era isso que o impediria de alcançar a sua
missão com a ajuda de Deus. Aliás, a afirmação do Almirante demonstra mesmo que
o nome que lhe davam não era o seu verdadeiro nome. Se invocou o Rei David foi
porque sempre afirmou que a sua missão lhe fora confiada por Deus, para
recuperar Jerusalém com o ouro que conseguisse, pelo que foi um exemplo
escolhido por associação de ideias.
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