sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado #22 ('Prova' 40)

'Prova' {40} - pág. 226:

Do nosso ponto de vista ... aquela oferta de serviços aos Reis de Inglaterra e de França ... inviabiliza a ideia de que Colombo tivesse actuado como agente de D. João II para atrair para o Novo Mundo as atenções de Espanha, e assim as desviar das verdadeiras ìndias. Que teria sucedido se Henrique VII de Inglaterra que c. 1490 recusou os serviços de Colombo mas veio uns quatro anos mais tarde a aceitar os de João Caboto, ...  tivesse aceitado a oferta do primeiro.

D. João II jamais poderia incorrer tamanho risco ...

 

ACC:

Entre o que escreveu o Almirante em carta dirigida aos membros do Conselho c. 1501, na qual afirma que: “Já vão 17 anos que eu vim a servir estes Príncipes com a empresa das Índias … Eu com amor prossegui nela e respondi a França, a Inglaterra e a Portugal que para o Rei e Rainha, meus Senhores, eram essas terras e senhorios”

E o que escreveu, dezenas de anos mais tarde, Hernando Colon:

“Ma temendo, se parimente i re di Castiglia non assentissero alla sua impresa, non gli bisognasse proporla di nuovo a qualche altro principe, e così in ciò passasse lungo tempo, mandò in Inghilterra un suo fratello che aveva presso di sé, chiamato Bartolomeo Colón, … cominciò a far pratiche col re Enrico Settimo… Ma, tornando al re d'Inghilterra, dico che da lui il mappamondo veduto e ciò che l'Ammiraglio gli offriva, con allegro volto accettò la sua offerta e mandollo a chiamare. Ma, perché Dio l'aveva per Castiglia serbata, già l'Ammiraglio in quel tempo era andato e tornato con la vittoria della sua impresa, …

(Historie, cap. XI)

(…)

… in Spagna, e che tardava troppo a dare effetto alla sua impresa, deliberò di andare a trovare il re di Francia, al quale già aveva scritto sopra questo, con proponimento, se quivi non fosse udito, di andar poi in Inghilterra a cercare il fratello, del quale non aveva novella alcuna.

(Historie, cap. XII bis)

(…)

Perché, quantunque l'Ammiraglio fosse già fuori d'ogni speranza e sdegnato, vedendo il poco animo e giudizio che trovava nei consiglieri delle Altezze loro, nondimeno, per il desiderio che dall'altra parte era in lui di donar questa impresa alla Spagna, …. Il che fu cagione ch'egli aveva rifiutate le altre offerte che gli altri principi gli avevano fatte, … sì come egli riferisce in una sua lettera scritta alle loro Altezze, dicendo così:

«Per servir le Altezze vostre io non ho voluto impacciarmi con Francia, né con Inghilterra, né con Portogallo, dei quali principi le Altezze vostre videro le lettere per mano del dottor Viglialano».

(Historie, cap. XII bis)

 

O autor opta por dar preferência ao que escreveu Hernando a propósito das propostas a Inglaterra e França, desprezando, simultaneamente, quer o que escreveu o Almirante, quer também esse mesmo escrito que Hernando reproduziu e onde o Almirante afirma que Suas Altezas viram as cartas escritas pelos Príncipes (de Inglaterra, França e Portugal).

 

Note-se ainda as inconsistências cronológicas de D. Hernando no relato das propostas a Inglaterra e França, pois afirma que quando o Rei de Inglaterra decidiu aceitar a proposta que Bartolomeu lhe tinha apresentado (em Fevereiro de 1488), já o Almirante tinha regressado da sua viagem (Março 1493) – enquanto o Prof. Thomaz escreve que Henrique VII a recusou c. 1490 - e que o próprio Almirante pensou ir pessoalmente a França (1492) e depois seguir para Inglaterra ao encontro do seu irmão – e assim não incumbira o irmão de a apresentar ao Rei de França

Portanto, Bartolomeu Colon, que partira em 1485 para Inglaterra com o intuito de apresentar a proposta ao Rei, tinha-se demorado nada mais nada menos que oito anos, e pelo menos cinco deles após essa apresentação. Se o objectivo era não perder tempo caso Castela recusasse, muito mal andou Bartolomeu. E depois ainda ficou por França, onde acabou por saber que o irmão já tinha feito a viagem às ‘Indias’, regressado a Castela e partido novamente para segunda viagem.

 

Tudo somado, torna-se mais nítida uma certa forma de pressão para que os Reis Católicos se decidissem a aceitar.

Muito estranho é ainda que o Almirante tenha mostrado aos Reis Católicos uma carta do Rei de Portugal a aceitar a sua proposta. Não consta nas crónicas portuguesas que D. João II recusou? Ou será que foi apenas uma encenação?

De qualquer forma, o que o Prof. Thomaz considera a prova {40} nada tem a ver com a pretensa genovesidade do Almirante.

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