sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 59 ('Prova' 93)

 {93} - pág. 691:

Se o primo Juan António só c. 1496 traz para Espanha a teoria de que o descobridor era genovês e se chamava Colombo, por que motivo já em 1493 Pedro Mártir de Angleria, {93} em três das suas cartas em que noticia a descoberta, escritas entre Setembro e Novembro, lhe chama por duas vezes lígure e uma genuensis

 

ACC:

Como antes se viu, o boato sobre a naturalidade genovesa do Almirante começou muito antes da chegada de Juan António, que já se demonstrou não ser seu primo. Logo na primeira impressão em Barcelona da carta de Colon a Santangel, o nome foi alterado para Colom e na subsequente tradução para latim foi-lhe adicionado um epigrama laudatório em que a deturpação foi mais longe, chamando-lhe Columbo. Portanto, desde a primeira metade de 1493 que se começara a propagar essa informação deturpada.

Quando Pietro Martire d’Anghiera escreveu em latim as suas cartas relatando o sucesso da viagem ao Novo Mundo, já a desinformação estava em curso, mas ele nunca lhe chamou Columbo ou Columbus, sempre Colonus.

E nas três cartas a que o Prof. Thomaz alude, bem como em todas as outras, não o adjectivou como genuensis, mas sim como lígure (Cf. Opus Epistolarum, Petri Martyris Anglerii):

 

13.IX.1493 ao Conde Tendilla e ao Arcebispo de Granada: “Colonum Ligurem”. (Livro Sexto, epístola CXXXIII)

13.IX.1493 a Ascanio Sforza: “Christophorus quidam Colonus vir Ligur” (Livro Sexto, epístola CXXXIV)

20.X.1494 a Johannes Borromeo: “Christophorum Colonum Ligurem”; “Colonum eum Ligurem” (Livro Sétimo, epístola CXLII)

 

Outras cartas:

14.V.1493 a Johannes Borromeo: “Christophorus quidam Colonus vir Ligur”. (Livro Sexto, epístola CXXX)

1.X.1493 ao Arcebispo de Braga: “Colonus quidam” (Livro Sexto, epístola CXXXV)

1.XI.1493 ao Cardeal Ascanio: “Colonus” (Livro Sexto, epístola CXXXVIII)

7.XII.1494 a Pomponio Leto: “ipsi Colono, Almirante (ut ajunt Hispani)” (Livro Sétimo, epístola CXLVI)

1.I.1494 a Pomponio Leto: “Colonus”; “Colonus, ipse Almirantus”; “Colonus(Livro Sétimo, epístola CLII)

15.VIII.1495 ao Cardeal Bernardino: “Admirantus ipse Colonus” (Livro Oitavo, epístola CLXIV)

 

Sem sequer o conhecer bem, como demonstram as expressões que utilizou para o mencionar “dito Colonus” ou “um tal Colonus” Pietro Martire decidiu chamar-lhe homem lígure, estabelecendo de alguma forma uma ligação à sua própria região natal na ‘Itália’, apesar de manter latinizado para Colonus o apelido Colon, sem o deturpar para Columbo.

O Prof. Thomaz não se manifesta quanto ao nome Colonus, que lhe dificultaria a versão do Columbus genovês, focando-se na qualificação “lígure”.

Curiosamente os lígures foram um dos povos que ocuparam o território do sul de Portugal, Alentejo / Algarve no séc. V a.C. (Cf. MELO. Amílcar – Portugal económico, político e social. Lisboa: Ed. Vieira da Silva, 2016. Págs.26- 27)

Os Lígures não eram de origem itálica. Eles pertenceram provavelmente à raça Ibérica, a qual é o substrato da nação espanhola. (Cf. HARRISE, Henry – Christopher Columbus and the Bank of Saint George, New York: Ed. Privada, 1888, pág. 64)

Portanto, Pietro Martire embora pudesse ter induzido em erro os seus correspondentes e principalmente os precipitados leitores da actualidade, não faltou à verdade ao dizer que Colonus era um lígure. Possivelmente um Lígure originário da Ibéria, ou melhor, do sul de Portugal.

Sem comentários: