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Se o primo Juan António só c. 1496 traz para
Espanha a teoria de que o descobridor era genovês e se chamava Colombo, por que
motivo já em 1493 Pedro Mártir de Angleria, {93} em três das suas
cartas em que noticia a descoberta, escritas entre Setembro e Novembro, lhe
chama por duas vezes lígure e uma genuensis?
ACC:
Como antes se viu, o boato sobre a naturalidade
genovesa do Almirante começou muito antes da chegada de Juan António, que já se
demonstrou não ser seu primo. Logo na primeira impressão em Barcelona da carta
de Colon a Santangel, o nome foi alterado para Colom e na subsequente tradução
para latim foi-lhe adicionado um epigrama laudatório em que a deturpação foi
mais longe, chamando-lhe Columbo. Portanto, desde a primeira metade de 1493 que
se começara a propagar essa informação deturpada.
Quando Pietro Martire d’Anghiera escreveu em latim as
suas cartas relatando o sucesso da viagem ao Novo Mundo, já a desinformação
estava em curso, mas ele nunca lhe chamou Columbo ou Columbus, sempre Colonus.
E nas três cartas a que o Prof. Thomaz alude, bem como
em todas as outras, não o adjectivou como genuensis,
mas sim como lígure (Cf. Opus
Epistolarum, Petri Martyris Anglerii):
13.IX.1493 ao Conde Tendilla e ao Arcebispo de
Granada: “Colonum Ligurem”. (Livro
Sexto, epístola CXXXIII)
13.IX.1493 a Ascanio Sforza: “Christophorus quidam Colonus vir Ligur” (Livro
Sexto, epístola CXXXIV)
20.X.1494 a Johannes Borromeo: “Christophorum Colonum Ligurem”; “Colonum eum Ligurem” (Livro
Sétimo, epístola CXLII)
Outras cartas:
14.V.1493 a Johannes Borromeo: “Christophorus quidam Colonus vir Ligur”. (Livro
Sexto, epístola CXXX)
1.X.1493 ao Arcebispo de Braga: “Colonus quidam” (Livro Sexto, epístola CXXXV)
1.XI.1493 ao Cardeal Ascanio: “Colonus” (Livro Sexto, epístola CXXXVIII)
7.XII.1494 a Pomponio Leto: “ipsi Colono, Almirante (ut ajunt Hispani)” (Livro
Sétimo, epístola CXLVI)
1.I.1494 a Pomponio Leto: “Colonus”; “Colonus, ipse
Almirantus”; “Colonus” (Livro Sétimo, epístola CLII)
15.VIII.1495 ao Cardeal Bernardino: “Admirantus ipse Colonus” (Livro
Oitavo, epístola CLXIV)
Sem sequer o conhecer bem, como demonstram as
expressões que utilizou para o mencionar “dito
Colonus” ou “um tal Colonus” Pietro
Martire decidiu chamar-lhe homem lígure, estabelecendo de alguma forma uma
ligação à sua própria região natal na ‘Itália’, apesar de manter latinizado
para Colonus o apelido Colon, sem o deturpar para Columbo.
O Prof. Thomaz não se manifesta quanto ao nome
Colonus, que lhe dificultaria a versão do Columbus genovês, focando-se na
qualificação “lígure”.
Curiosamente
os lígures foram um dos povos que ocuparam o território do sul de Portugal,
Alentejo / Algarve no séc. V a.C. (Cf.
MELO. Amílcar – Portugal económico,
político e social. Lisboa: Ed. Vieira da Silva, 2016. Págs.26- 27)
Os
Lígures não eram de origem itálica. Eles pertenceram provavelmente à raça
Ibérica, a qual é o substrato da nação espanhola. (Cf. HARRISE, Henry – Christopher Columbus and the Bank
of Saint George, New York: Ed. Privada, 1888, pág. 64)
Portanto,
Pietro Martire embora pudesse ter induzido em erro os seus correspondentes e
principalmente os precipitados leitores da actualidade, não faltou à verdade ao
dizer que Colonus era um lígure. Possivelmente um Lígure originário da Ibéria,
ou melhor, do sul de Portugal.
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