quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 39 ('Provas' 64, 65)

 'Prova' {64} - pág. 346:

Foi então que, a 6 de Outubro, se esboçou contra ele um motim, que o Diário prudentemente cala, mas de que temos conhecimento por Pedro Mártir de Angléria:

Os companheiros espanhóis (de Colombo) começaram a murmurar, de começo surdamente, mas logo a increpá-lo com abertos insultos, pensando por fim matá-lo ou em atirá-lo ao mar. Diziam-se enganados por um homem da Ligúria {64} que os arrastava para um precipício de que jamais lograriam regressar.

 

ACC:

Note-se o manhoso cuidado do Prof. Thomaz ao não registar qual a parte da obra de Angléria de onde extraiu o parágrafo que transcreveu, preferindo confundi-lo com a falta no Diário do que teria acontecido a 6 de Outubro. Provavelmente para que algum leitor incauto pense que nessa data os marinheiros espanhóis teriam afirmado que o Almirante era um homem da Ligúria.

Mas nada disso: não foram os marinheiros espanhóis que o afirmaram, mas sim Angléria que escreveu, na senda das cartas que já tinha escrito após o regresso do Almirante a Barcelona, em 1493 e 1494 e nas quais sempre designou Christoforus Colonus por homem lígure.

Aliás, nos depoimentos dos marinheiros nos Pleitos Colombinos sobre este episódio, de que o Prof. Thomaz transcreveu extractos na pág. 347, não há nenhuma referência ao Colombo lígure.


'Prova' {65} - pág. 346:

D. Hernando, que conheceu Angléria, conta aproximadamente a mesma história...:

Quanto mais se revelavam vãos os sobreditos sinais (de terra) tanto mais crescia o seu pavor e a sua ocasião de murmurar ... E que por ser o Almirante estrangeiro {65} e sem favor algum ...

 

ACC:

Esta afirmação não tem qualquer relação com a alegada genovesidade do Almirante que o Prof. Thomaz pretende provar.

O Prof. Thomaz invoca ainda que D. Hernando conheceu a obra de Angléria, presumivelmente tentando incutir no leitor incauto a ideia de que D. Hernando teria concordado com a afirmação de Angléria sobre a origem lígure do Almirante. Mas o facto de D. Hernando, sobre o mesmo assunto, afirmar apenas que o Almirante era estrangeiro, desmente e desmonta a tortuosa intenção do autor.


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