quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 38 ('Prova' 63)

 'Prova' {63} - pág. 343:

A partida de Colombo causara certa inquietação em Portugal, onde se desconfiava talvez de que o seu real objectivo fosse a Mina. Por isso, ao mesmo tempo que dava ordens para que o prendessem em qualquer porto português em que ancorasse, enviara D. João II uma armada a interceptá-lo nas paragens das Canárias se intentasse avançar para sul do arquipélago {63}

 

ACC:

Esta afirmação não tem qualquer relação com a alegada genovesidade do Almirante que o Prof. Thomaz pretende provar.

Incoerentemente, o Prof. Thomaz afirma que a partida de Colon causara certa inquietação em Portugal, esquecendo que o plano que o Almirante propusera aos Reis Católicos era o de chegar às Índias pelo Ocidente e que os navios castelhanos já há muito que tentavam avançar até à Mina, sempre repelidos pelos portugueses, pelo que não necessitavam de um “pobre e ignorante tecelão genovês” para o fazer.

Baseia-se bem Las Casas, que extraiu do Diário do Almirante o apontamento sobre a presença das caravelas portuguesas, tendo o Almirante escrito que debía ser la envidia que el Rey tenía por haberse ido a Castilla.”

Mais uma incongruência de quem defende que D. João II recusou a proposta de Colon e que Colon fugiu então para Castela zangado com o Rei português, mas nada interpreta sobre a vinda do Almirante em 1488 para um encontro com o Rei e com Bartolomeu Dias, então regressado do Cabo da Boa Esperança.

Se havia navios portugueses a sul das Canárias não era por inquietação com a partida de Colon, mas sim um procedimento usual para proteger os interesses de Portugal na costa africana.

D. João II estava ao corrente do objectivo da viagem que Colon iria realizar, pois numa passagem da carta dos Reis Católicos para D. João II em 03 de Novembro de 1493 pode ler-se: “que el dicho rey, nuestro hermano, lo entendió asi cuando supo que Nos embiábamos a don Cristóbal Colón (…) a al parte de las Indias para descubrir islas e tierras por el dicho mar oceano, y fue muy contento (que) fuesse por todo el dicho mar Océano, tanto que no pasase de las islas de Canaria contra Guinea, ques donde el dicho rey, nuestro hermano, acostumbra embiar”.

(Biblioteca Nacional, Madrid, Ms. 2420, fol.196-198; Corpus documental del Tratado de Tordesillas, Valladolid, 1995, p. 140, in GARCIA, José Manuel – Pedro Álvares Cabral e a primeira viagem aos quatro cantos do Mundo: Lisboa, Ed. Círculo de Leitores, 2020. Págs. 66-76)

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