'Prova' {63} - pág. 343:
A partida de Colombo causara certa inquietação em
Portugal, onde se desconfiava talvez de que o seu real objectivo fosse a Mina.
Por isso, ao mesmo tempo que dava ordens para que o prendessem em qualquer
porto português em que ancorasse, enviara D. João II uma armada a
interceptá-lo nas paragens das Canárias se intentasse avançar para sul do
arquipélago {63}
ACC:
Esta afirmação não tem qualquer relação com a alegada
genovesidade do Almirante que o Prof. Thomaz pretende provar.
Incoerentemente, o Prof. Thomaz afirma que a partida
de Colon causara certa inquietação em Portugal, esquecendo que o plano que o
Almirante propusera aos Reis Católicos era o de chegar às Índias pelo Ocidente
e que os navios castelhanos já há muito que tentavam avançar até à Mina, sempre
repelidos pelos portugueses, pelo que não necessitavam de um “pobre e ignorante
tecelão genovês” para o fazer.
Baseia-se bem Las Casas, que extraiu do Diário do
Almirante o apontamento sobre a presença das caravelas portuguesas, tendo o
Almirante escrito que “debía
ser la envidia que el Rey tenía por haberse ido a Castilla.”
Mais uma incongruência de quem defende que D. João II recusou a proposta
de Colon e que Colon fugiu então para Castela zangado com o Rei português, mas
nada interpreta sobre a vinda do Almirante em 1488 para um encontro com o Rei e
com Bartolomeu Dias, então regressado do Cabo da Boa Esperança.
Se havia navios portugueses a sul das Canárias não era por inquietação com a partida de Colon, mas sim um procedimento usual para proteger os interesses de Portugal na costa africana.
D. João II estava ao corrente do objectivo da
viagem que Colon iria realizar, pois numa passagem da carta dos Reis Católicos
para D. João II em 03 de Novembro de 1493 pode ler-se: “que
el dicho rey, nuestro hermano, lo entendió asi cuando supo que Nos embiábamos a
don Cristóbal Colón (…) a al parte de las Indias para descubrir islas e tierras
por el dicho mar oceano, y fue muy contento (que) fuesse por todo el dicho mar
Océano, tanto que no pasase de las islas de Canaria contra Guinea, ques donde
el dicho rey, nuestro hermano, acostumbra embiar”.
(Biblioteca Nacional, Madrid, Ms. 2420,
fol.196-198; Corpus documental del Tratado de Tordesillas, Valladolid, 1995, p.
140, in GARCIA, José Manuel – Pedro
Álvares Cabral e a primeira viagem aos quatro cantos do Mundo: Lisboa, Ed.
Círculo de Leitores, 2020. Págs. 66-76)
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