'Provas' {74}, {75}, {76} e {77} - págs. 484 e 485:
{74} –
Foi só mais
tarde, já depois da morte de Domenico Colombo, que Sebastiano, filho de
Corrado (de Cuneo) e portanto, ao que parece, irmão de Michele (de
Cuneo), veio exigir de Cristóvão e de Giacomo ou Diego Colombo o pagamento
da dívida paterna - o que lhes foi intimado por notificação judicial de
8.IV.1500 {74}.
{75} –
foram dados
por ausentes, "nas partes de Espanha, como foi e é notório", foram a
26.I.1501 responsabilizados seus vizinhos de Savona, como era norma aí. {75}
{76} –
O relato (da segunda viagem colombina) de (Michele da)
Cuneo consta de uma carta escrita em Savona entre 15 e 28 de Outubro de 1495, e
endereçada ao nobre genovês Gerolamo Annari, grande amigo de Bartolomeu
Colombo, de quem insistentemente pedira notícias {76};
{77} –
tem por título "Sobre as novidades das ilhas do
Oceano Hesperico descobertas por D. Cristóvão Colombo genovês" {77}
ACC:
No contraditório à ‘prova’ {21} já nos
referimos, extensamente, a partes do texto das págs.483 a 485, que aqui se
volta a escalpelizar.
Estas alegações apresentadas como provas pelo Prof. Thomaz, bem como todo o texto onde estão inseridas, são bem um paradigma da construção ou montagem da narrativa histórica do Colombo tecelão genovês:
* Começa por afirmar que Miguel de Cuneo era
amigo do descobridor.
- Sem nada que o comprove. Dos actos
notariais referentes à família Colombo conclui-se que viveu permanentemente em
Génova até finais de 1471, em que começam a surgir indicações de que Domenico é
habitante de Savona. De igual modo, Cristoforo surge ainda referido como
tecelão de Génova num acto notarial de que é testemunha em Savona, em 20/03/1472.
E em 26/08/1472 encontra-se o último acto notarial publicado na Raccolta onde
participa Cristoforo, em que Domenico é designado como habitante de Savona e
Cristoforo apenas como seu filho.
Não é provável, embora tal não seja impossível, que Cristoforo e Michele pudessem ser amigos, visto que não tiveram oportunidade, documentada, para conviverem ou sequer habitarem na mesma localidade o tempo suficiente para tal.
* Continua dizendo que parece que durante os
preparativos para a viagem [segunda] Colombo mandara convite a Michele de Cuneo
para que o acompanhasse
- Parece ao Prof. Thomaz, mas não está documentado, pelo que não passa de uma suposição infundada.
* Parece-lhe mais provável que Michele fosse
filho de Corrado da Cuneo porque este vendera em 1474 a Domenico Colombo dois
terrenos em Legine.
- Michele seria filho de Corrado, mas quem vendeu em 1474 dois terrenos em Legine a Domenico não foi Corrado de Cuneo, mas sim um tal Seius, cidadão de Savona. (Cf. Raccolta, Parte II, Vol. I, doc. LVI)
* Embora Domenico, já em más condições
financeiras não tivesse pago a compra, Corrado, magnanimamente, deixou-o até à
morte na posse da propriedade, que ele pôde assim arrendar a terceiros em 1481.
– Duvidoso, pois o acto notarial de arrendamento por Domenico a Giovanni Picasso, datado de 17/8/1481 não está suportado documentalmente, sendo apenas referido por G.T. Belloro. (Cf. Raccolta, Parte II, Vol. I, doc. LXVI). Mas se Domenico tivesse arrendado essa casa em 1481 e regressado para Génova como indicam os actos notariais subsequentes, não poderia usar o valor da renda para ir honrando o pagamento da dívida da compra?
* Foi por se sentir moralmente em dívida, que
não estava em condições de saldar, que o Almirante convidou Michele,
compensando-o assim da insolvência de Domenico.
- Não está comprovado que o Almirante tenha convidado Michele e é infundado que tal, a ter acontecido, se devesse a compensação pela dívida, pois Domenico não devia nada a Corrado de Cuneo, mas sim a um cidadão de nome Seius. (Cf. Raccolta, Parte II, Vol. I, doc. LVII)
* Que já depois da morte de Domenico,
Sebastiano, filho de Corrado e ao que parece, irmão de Michele, veio a exigir
de Cristoforo e de Giacomo ou Diego Colombo o pagamento da dívida paterna.
- Falso. Quem veio a exigir o pagamento da
dívida foi Titius, filho de Seius, em 08/04/1500. Estranhamente não é
mencionado Bartolomeu como co-responsável pela dívida paterna. Ainda mais
estranhamente, se diz que Giacomo é dito Diego pois em nenhum acto notarial tal
é referido e o argumento conhecido para justificar que eram a mesma pessoa é
que o nome Diego seria o nome de Giacomo em Castela.
Tendo Corrado de Cuneo falecido em 1483, será que o seu filho e herdeiro Sebastiano esperaria 17 anos para exigir o pagamento de uma dívida ou para exigir a reversão da venda a Domenico? E como Domenico Colombo terá falecido c. 1494, não tentaria Sebastiano, no mínimo, resolver as questões com os respectivos herdeiros logo nessa altura?
* Que foram dados por ausentes, nas partes de
Espanha e responsabilizados os vizinhos.
- É o que consta no texto do acto. No entanto desde 1481 que a família já não habitaria em Savona, pois teria arrendado a casa a terceiros, mas sim novamente em Génova. Em 25/08/1487 Giacomo é tecelão em Génova. (Cf. Raccolta, Parte II, Vol. I, doc. LXVIIII). Os vizinhos teriam em 1501 já sabido do boato que correra sobre o Almirante Colon de Espanha ser um Colombo genovês e sabiam que os Colombos já não habitavam em Legine de Savona, pelo que assumiram tratar-se dos mesmos personagens. Daí acharem que os Colombos, que eles já não viam há vinte anos, estavam ausentes nas partes de Espanha.
* E que o relato de Michele de Cuneo sobre a
segunda viagem consta de uma carta escrita em Savona ao nobre genovês Gerolamo
Annari, grande amigo de Bartolomeu Colombo, de quem insistentemente pedira
notícias.
- É na carta de Michele de Cuneo impressa
pelo editor Giulio Einaudi na obra Nuovo
Mondo – Gli Italiani 1492-1565, que Michele se refere a messe Bartolomeo
como amigo de Annari (na verdade Aimari), a quem Michele trata por ‘Nobili
Domino’ e ‘Nobilis domine honorande’
indicando assim que Annari pertencerá à nobreza, o que suscita algumas dúvidas
quanto à efectiva relação de amizade
Para continuar a construção da narrativa refira-se que
numa biografia de Michele de Cuneo, (AIRALDI, Gabriela – Dizionario Biografico degli Italiani,
Vol. 74 – 2010) se menciona a amizade entre Gerolamo Aimari e Bartolomeu
Colombo.
E que o pretensioso título da carta de
Michele de Cuneo pode não ser mais do que um destaque inserido pelo editor, não
constando nessa forma no manuscrito original e só com ele podendo ser
comprovado. Tal como a amizade entre Annari e o tecelão Bartolomeo.
Porque, estranhamente, no corpo da carta nem uma única vez é escrito o nome do Almirante, sendo sempre referido como Senhor Almirante e Bartolomeo é mencionado por duas vezes, mas sem apelido.
O cúmulo de toda esta montagem de narrativa é que não
existem os documentos dos actos notariais sobre a venda, dívida e processos
referentes às parcelas de terreno em Legine acima mencionados e publicados na
Raccolta.
O que existe são descrições desses alegados actos,
publicadas um século depois, em 1602 por Julius Salinerius (Annotationes Ivlii Salinerii Ivreconsvl
savonensis. Ad Cornelivm Tacitvm). E é numa nota à margem do livro, na pág.
342, que se diz que Seius e Titius não são os verdadeiros nomes. Por seu lado,
na Raccolta, Parte
II, Vol. I, em nota de rodapé ao doc. LVI se refere que num exemplar existente
numa Biblioteca de Génova está manuscrito na margem, com letra do séc. XVII,
que Seius era Corrado de Cuneo e Titius era o seu filho Sebastiano.
Será razoável aceitar que
alguém interviesse em actos notariais de compra e venda e não se identificasse
pelo próprio nome?
Será cientificamente
aceitável identificar o cidadão Seius, que é o nome que consta nos actos notariais,
com Corrado de Cuneo, só porque alguém escreveu à mão, num livro publicado um
século depois, que Seius era Corrado de Cuneo?
E como se deve classificar a
atitude dos autores da Raccolta Colombiana,Parte II, Vol. I, que
no Doc. LVIII, de
19.08.1474 em que o cónego de Savona transfere para Dominico de Columbo o
contrato de enfiteuse que mantinha com Conradus da Cunio, anotam em rodapé que este
documento está indicado confusamente por Belloro, juntamente com os dois
anteriores (compra por Domenico e reconhecimento da dívida) e apresentam também
como referência a obra Annotationes
de Julius Salinerius?
Mas na obra Annotationes
de Julius Salinerius onde se descrevem os actos notariais da compra das
parcelas de terreno, verifica-se que também neste contrato de enfiteuse a
Domenico, se refere que anteriormente era seu titular o cidadão Seius e não
Corrado de Cuneo
Ou seja, não existe nada referente a Corrado de Cuneo
e G.T. Belloro foi iludido pela anotação manuscrita no livro de Salinerius.
Será ainda, razoável admitir
que estes actos notariais existiram e que não foram o resultado de um exercício
de elucubração desenvolvido por Julius Salinerius?
Ou pode fazer-se uma leitura menos benigna de tudo
isto e adicionar estes papéis a vários outros, problemáticos, apócrifos, deturpados,
falsos ou contrafeitos que pululam no rol dos pretensos documentos do Colombo
tecelão genovês?
Convém não esquecer que Salinerius publicou em 1602,
fase em que ainda decorriam os Pleitos Sucessórios onde Baldassare Colombo se
apresentara com pretensões aos direitos, que beneficiariam Génova devido ao
Mayorazgo contrafeito de 1498. Esta obra de Salinerius ajudaria assim a
confirmar a tese fraudulenta.
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