segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 49 ('Prova' 82)

 {82} - pág. 645:

Ao contrário do seu irmão Giacomo ou Diego - que por carta régia de 8 de Fevereiro de 1504 registada no Sello de Corte do Real Arquivo de Simancas, foi feito natural destos nuestros reinos de Castilla e de Léon - Cristóvão não se fizera  nunca naturalizar castelhano. Ao que parece em 1495 Giacomo hesitava entre manter-se com seu irmão ao serviço de Castela e regressar a Itália, e os Reis deram instruções ao Bispo de Badajoz para que o deixassem partir ou ficar, conforme decidisse.

 

ACC:

A tentação de ceder à atracção exercida por qualquer frase onde se inclua alguma palavra que remeta para Génova ou Itália é mais forte que o dever científico e académico de analisar e interpretar correctamente essa frase.

E nestas alegações apresentadas pelo Prof. Thomaz encontram-se alguns aspectos que merecem ser focados, já que não lhes foi dada atenção por quem os invocou.

Em primeiro lugar, refere-se que Giacomo ou Diego foi feito natural dos Reinos de Castela e Leão, o que não é verdade, pois quem foi feito natural dos Reinos de Castela e Leão foi D. Diego Colon, não foi um Giacomo Colombo.

 

NUMERO CLIV.

Naturaleza de Reinos a D. Diego Colon, hermano del Almirante Don Cristobal.

(Registrada en el Real Archivo de Simancas en el Sello de Corte.)

“Don Fernando e Dona Isabel, por la gracia de Dios &c.: Por hacer bien e merced a vos D.Diego Colon, hermano del Almirante D. Cristobal Colon, e acatando vuestra fidelidad e leales servicios que nos habeis fecho, e esperamos que nos fareis de aqui adelante, por la presente vos facemos natural destos nuestros Reinos de Castilla o de Leon , …”

 

O Prof. Thomaz não só continua a insistir que Giacomo Colombo era a mesma pessoa que Diego Colon, como finge ignorar que este Diego Colon é D. Diego Colon, merecendo dos Reis Católicos um tratamento reservado aos estratos sociais mais altos. E fá-lo porque não consegue explicar como seria possível que esse tratamento fosse dado a um tecelão. O mesmo aconteceu com Bartolomeu Colon, que também mereceu o tratamento por D. Bartolomé Colon logo no primeiro documento que lhe foi emitido pelos Reis Católicos em 1494.

Saliente-se ainda que esta é a única carta de naturalização em Castela e Aragão em que não é indicada a naturalidade que o naturalizado detinha anteriormente. Sobre a origem dos irmãos Colon continuava a fazer-se silêncio, escondendo-a.

 

E quanto à carta dos Reis ao Bispo de Badajoz, pela sua leitura se pode desmentir o que escreveu o Prof. Thomaz, pois D. Diego Colon não hesitava entre ficar com seu irmão ou regressar a Itália.

O que os Reis expressam na carta é que “depois dos acontecimentos em Itália, D. Diego tem o propósito de não ir lá. Note-se bem que diz  “no ir allá” que significa “não ir lá (a Itália)”, o que é diferente de “no irse allá” que significaria “não ir para lá”   e totalmente diferente de “regressar a Itália”.

“se quiser ir para (junto do) seu irmão, ou vir para cá ou ficar onde está, faça o que quiser”

 

NÚMERO XCV.

Carta de los Reyes al Obispo de Badajoz, recordandole que no exija a D. Diego, hermano del Almirante, el oro que trajo de Indias; y que si no quiere ir a Italia que no vaya, y resida donde quiera.

 

“El Rey e la Reina: Reverendo in Cristo Padre Obispo: Vimos vuestra letra, y cerca de lo que toca a D. Diego Colon, hermano del Almirante de las Indias, ya habreis recibido una carta nuestra, por la cual vos escribimos que no le pidiesedes el oro que agora el trajo de las Indias mas que ge lo dejasedes para su costa; aquello cumplid segun que vos lo escribimos. Y porque nos dicen que despues que han sido las cosas de Italia esta de proposito de non ir alla, es muy bien que no debe ir alla; si el quisiere irse a su hermano el Almirante o venirse aca o estarse ende, faga lo quel quisiere. De Arevalo a primero de Junio de noventa y cinco años.”

 

O que se deduz da carta é que D. Diego Colon teria feito um pedido oficial para ir a Itália tratar de algum assunto, mas que devido a acontecimentos ocorridos em Itália, não tinha o propósito ou intenção de lá ir e os Reis concordam com essa sua decisão de não ir.

Referia-se à Primeira Guerra Italiana 1494-95 (A guerra colocou Carlos VIII da França , que teve ajuda inicial de Milão, contra o Sacro Império Romano, a Espanha e uma aliança de potências italianas liderada pelo Papa Alexandre VI, conhecida como Liga de Veneza). Era portanto absolutamente natural que D. Diego não desejasse ir nessa ocasião à Itália em guerra, certamente a Roma, apesar do seu desejo em tornar-se membro da Igreja, conforme consta no testamento do Almirante.

O facto de ser um assunto tratado com o Bispo de Badajoz reforça a ideia de se poder tratar da pretensão de D. Diego Colon em tornar-se membro da Igreja, procurando obter uma posição eclesiástica de relevo.

Refira-se ainda que este objectivo estava em linha com o que era norma nas famílias nobres, em que o varão primogénito herdava o título nobiliárquico tal como os bens associados, o segundo filho seguia uma carreira militar num posto elevado e o filho seguinte obtinha uma posição na hierarquia do clero.

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