domingo, 20 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado # 54 ('Prova' 87)

 {87} - pág. 682:

De qualquer forma o registo do Sello de Corte confirma tanto a existência da Instituición (de Mayorazgo) como a sua data (Sevilha, quinta feira, 22.II.1498) embora não confirme apoditicamente o seu preciso teor visto estar truncado e, na forma em que nos chegou, conter apenas o começo do documento primitivo.

... Curiosamente houve quem em 1586, em carta escrita de Madrid a 8 de Fevereiro, mandasse para Florença notícia deste sucesso:

descobriu-se cópia do testamento do almirante D. Cristóvão Colombo, que estava em poder do procurador do almirante de Aragão, que o restituiu, mas com uma folha a menos, que se conhece ter sido cortada ... Entendo que entre muitas outras coisas diz ter nascido em Génova e quer que um seu segundo filho vá habitar em Génova e tome raíz naquela república ...

 

ACC:

O que está em causa não é que o Almirante tenha feito um Mayorazgo, autenticado em 22 de Fevereiro de 1498.

A Confirmação Real de 1501 não deixa dúvidas sobre esse facto.

O grande problema, que os genovistas pretendem contornar invocando a Confirmação, é que nessa Confirmação não consta o teor da Carta de Mayorazgo propriamente dito, isto é, o clausulado definido pelo Almirante. Ora, apresentar uma Confirmação Real e em substituição das folhas onde estaria a Carta de Mayorazgo apresentar uma pretensa cópia de um rascunho com igual data, apesar de tudo emendada, não pode constituir um documento probatório.

Como o Prof. Thomaz invoca em jeito de prova favorável, situa-se em 1586 a apresentação em tribunal dessa cópia espúria, apesar de tentar mais uma vez confundir o leitor ao relatar que D. Cristóbal Colón de Cardona se apossara em 1578 dos documentos colombinos, não podendo portanto ser imputada a Baldassare Colombo a introdução do documento contrafeito nos Pleitos Sucessórios. Leva o leitor a pensar que foi D. Cristóbal de Cardona quem entregou o contrafeito ao tribunal, mas este herdeiro tinha desaparecido em 1583.

Como atrás se demonstrou a propósito da prova {86}, o Codicilo e Testamento autêntico de 1506 determinava o processo de sucessão no morgadio, excluindo dele a descendência feminina, pelo que não colhe o argumento do Prof. Thomaz, de que desaparecera o mayorazgo verdadeiro de 1498 para esconder essa cláusula. Veja-se, aliás, que a cópia espúria só difere por ser vantajosa para o pretendente genovês Baldassare Colombo.

Em 1583 desapareceu D. Cristóbal de Cardona y Colón, o que também já tinha acontecido antes com seu irmão Luís de Cardona y Colón, complicando ainda mais a situação no litígio familiar que se tinha iniciado em 1579, opondo descendentes legítimas femininas a descendentes varões bastardos, pretendentes ao morgadio do Almirante Colon.

E foi no decorrer desse litígio, após o Rei Felipe II ter dele informado os embaixadores estrangeiros, que surgiram em cena dois pretendentes italianos à herança do Almirante.

Um deles foi Baldassare Colombo, de Cuccaro Monferrato, trineto de Francisquino Colombo. Muniu-se de declaração em que quatro dezenas de testemunhas em Monferrato asseguraram que Francisquino era irmão de Domenico Colombo, pai de Cristoforo Colombo. Francisquino e Domenico seriam filhos de Lancia Colombo, dos Senhores de Cuccaro.

Baldassare apresentou-se com um outro documento, que o Prof. Thomaz afirma ser uma cópia certificada do Mayorazgo de 1498 mas que, a ser certificada, só poderia ser uma cópia da cópia do rascunho contrafeito, pois nunca se viu essa cópia.

Aliás, se existisse uma cópia certificada do Mayorazgo verdadeiro, o Prof. Thomaz não teria escrito sobre o Tio genovês, simplesmente porque isso nunca teria estado em causa.

O tribunal castelhano das Índias aceitou, mesmo assim, a hipótese de que Cristoforo Colombo descendesse dos senhores de Cuccaro e que Baldassare seria assim parente do Almirante D. Cristóvão Colon. Mas não pronunciou então qualquer decisão sobre o direito ao ‘mayorazgo’.

Baldassare, depois de mais de 20 anos de espera, morreu em Madrid deixando a sua representação no pleito a seu filho Mário. Em 1606 Mário Colombo renunciou ao pleito, regressando a Itália.

O outro candidato foi Bernardo Colombo, recusado pelo tribunal devido a apresentação de falsa genealogia.

Por explicar na História ficam ainda vários factos: a discrepância entre esta linha familiar e a linha familiar segundo a qual o tecelão Domenico Colombo, documentado pai de um Cristoforo Colombo genovês, era filho de Giovanni Colombo; a certeza e convicção nos depoimentos das quarenta testemunhas, mais de um século após a morte de Domenico Colombo, pai de Cristoforo, o qual seguramente nenhum declarante conhecera; a ausência de qualquer pretendente masculino da família dos tecelões Colombo, à qual alegadamente o 1º Almirante pertencia.

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