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De qualquer forma o registo do Sello de Corte confirma
tanto a existência da Instituición (de Mayorazgo) como a sua data
(Sevilha, quinta feira, 22.II.1498) embora não confirme apoditicamente o
seu preciso teor visto estar truncado e, na forma em que nos chegou, conter
apenas o começo do documento primitivo.
... Curiosamente houve quem em 1586, em carta escrita
de Madrid a 8 de Fevereiro, mandasse para Florença notícia deste sucesso:
descobriu-se cópia do testamento do almirante D.
Cristóvão Colombo, que estava em poder do procurador do almirante de Aragão,
que o restituiu, mas com uma folha a menos, que se conhece ter sido cortada ... Entendo que entre muitas
outras coisas diz ter nascido em Génova e quer que um seu segundo filho vá
habitar em Génova e tome raíz naquela república ...
ACC:
O que está em causa não é
que o Almirante tenha feito um Mayorazgo, autenticado em 22 de Fevereiro de
1498.
A Confirmação Real de 1501
não deixa dúvidas sobre esse facto.
O grande problema, que os
genovistas pretendem contornar invocando a Confirmação, é que nessa Confirmação
não consta o teor da Carta de Mayorazgo propriamente dito, isto é, o clausulado
definido pelo Almirante. Ora, apresentar uma Confirmação Real e em substituição
das folhas onde estaria a Carta de Mayorazgo apresentar uma pretensa cópia de
um rascunho com igual data, apesar de tudo emendada, não pode constituir um
documento probatório.
Como o Prof. Thomaz invoca
em jeito de prova favorável, situa-se em 1586 a apresentação em tribunal dessa
cópia espúria, apesar de tentar mais uma vez confundir o leitor ao relatar que
D. Cristóbal Colón de Cardona se apossara em 1578 dos documentos colombinos,
não podendo portanto ser imputada a Baldassare Colombo a introdução do
documento contrafeito nos Pleitos Sucessórios. Leva o leitor a pensar que foi
D. Cristóbal de Cardona quem entregou o contrafeito ao tribunal, mas este
herdeiro tinha desaparecido em 1583.
Como atrás se demonstrou a
propósito da prova {86}, o Codicilo e Testamento autêntico de 1506 determinava
o processo de sucessão no morgadio, excluindo dele a descendência feminina,
pelo que não colhe o argumento do Prof. Thomaz, de que desaparecera o mayorazgo
verdadeiro de 1498 para esconder essa cláusula. Veja-se, aliás, que a cópia
espúria só difere por ser vantajosa para o pretendente genovês Baldassare
Colombo.
Em 1583
desapareceu D. Cristóbal de Cardona y Colón, o que também já tinha acontecido
antes com seu irmão Luís de Cardona y Colón, complicando ainda mais a situação
no litígio familiar que se tinha iniciado em 1579, opondo descendentes
legítimas femininas a descendentes varões bastardos, pretendentes ao morgadio
do Almirante Colon.
E foi no
decorrer desse litígio, após o Rei Felipe II ter dele informado os embaixadores
estrangeiros, que surgiram em cena dois pretendentes italianos à herança do
Almirante.
Um deles
foi Baldassare Colombo, de Cuccaro Monferrato, trineto de Francisquino Colombo.
Muniu-se de declaração em que quatro dezenas de testemunhas em Monferrato
asseguraram que Francisquino era irmão de Domenico Colombo, pai de Cristoforo
Colombo. Francisquino e Domenico seriam filhos de Lancia Colombo, dos Senhores
de Cuccaro.
Baldassare
apresentou-se com um outro documento, que o Prof. Thomaz afirma ser uma cópia
certificada do Mayorazgo de 1498 mas que, a ser certificada, só poderia ser uma
cópia da cópia do rascunho contrafeito, pois nunca se viu essa cópia.
Aliás, se
existisse uma cópia certificada do Mayorazgo verdadeiro, o Prof. Thomaz não
teria escrito sobre o Tio genovês, simplesmente porque isso nunca teria estado
em causa.
O tribunal castelhano das
Índias aceitou, mesmo assim, a hipótese de que Cristoforo Colombo descendesse
dos senhores de Cuccaro e que Baldassare seria assim parente do Almirante D.
Cristóvão Colon. Mas não pronunciou então qualquer decisão sobre o direito ao
‘mayorazgo’.
Baldassare, depois de mais de
20 anos de espera, morreu em Madrid deixando a sua representação no pleito a
seu filho Mário. Em 1606 Mário Colombo renunciou ao pleito, regressando a
Itália.
O outro candidato foi
Bernardo Colombo, recusado pelo tribunal devido a apresentação de falsa genealogia.
Por explicar na História
ficam ainda vários factos: a discrepância entre esta linha familiar e a linha
familiar segundo a qual o tecelão Domenico Colombo, documentado pai de um
Cristoforo Colombo genovês, era filho de Giovanni Colombo; a certeza e
convicção nos depoimentos das quarenta testemunhas, mais de um século após a
morte de Domenico Colombo, pai de Cristoforo, o qual seguramente nenhum
declarante conhecera; a ausência de qualquer pretendente masculino da família
dos tecelões Colombo, à qual alegadamente o 1º Almirante pertencia.
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