segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Colombo genovês, o tio errado #61 ('Provas' 95-97)

 {95} - pág. 691:

E por que razão o mesmo faz Michele da Cuneo {95}, na carta em que noticia a Girolamo Aimari a segunda viagem colombina, redigida em Savona entre 15 e 28 de Outubro de 1495?

 

ACC:

A questão da carta de Michele de Cuneo já foi amplamente abordada na apreciação da alegação {76}.

O pretensioso título da carta de Michele de Cuneo pode não ser mais do que um destaque inserido pelo editor da sua publicação, não constando nessa forma no manuscrito original e só com ele podendo ser comprovado. Abundam na história do Cristoforo Colombo genovês as situações de originais desaparecidos para dar origem a versões convenientemente adaptadas.

E assim é de facto! Não existe o original e o manuscrito que existe é uma cópia datada de 1511, da autoria de Jacopo Rosseto, conservado na Biblioteca da Universidade de Bolonha, divulgado em 1885 e cuja autenticidade foi questionada devido à diversidade de estilos. (Cf. MALONE, Ryan – Michele de Cuneo’s letter on the Second Voyage, 28 October 1495.)

 

 {96} - pág. 691:

E Battista Fregoso, que foi doge de Génova de 1478 a 1483, no seu De dictis factisque memorabilibus, publicado postumamente em Milão em 1509, em que começa assim o resumo da história da primeira viagem colombina: "admirável efeito da arte náutica e da cosmografia foi o que Cristóvão Colombo, de nação genovês {96}, mostrou no ano da salvação de 1493...

 

ACC:

Mais um relato com origem em autores que se limitaram a repetir o boato que circulara.

 

{97} - pág. 691:

Há que admirar igualmente a velocidade com que a atoarda se terá divulgado: em 1498, antes do regresso das Antilhas de João António, o Boatário, atingira já a Grã Bretanha, pois em carta escrita aos Reis Católicos a 21.VII.1498, Pedro de Ayala, embaixador espanhol na corte inglesa, inquieto com a partida de uma expedição encarregada de explorar a América Setentrional, receando que os ingleses se fossem a imiscuir nas Índias de Castela, alertava os Reis:

El Rey de Inglaterra embió cinco naos armadas con otro ginovés como Colón {97} a buscar la ysla de Brasil y las VII Ciudades, fueran proveídas por un año.

 

ACC:

Acrescenta o Prof. Thomaz que se tratava de Giovanni Caboto, que obtivera a 28.III.1476 a cidadania veneziana por residir em Veneza havia já 15 anos, mas era segundo tudo leva a crer de origem genovesa como Colombo.

Segundo tudo leva a crer, diz o Prof. Thomaz, sem indicar o que é o “tudo” que lhe aponta a origem genovesa de Caboto. Talvez pelo que escreveu Pedro de Ayala, certamente com capacidade de adivinhar que aquele personagem, que nem nomeia por desconhecer quem seria, veneziano desde 1476, tinha nascido genovês.

Ou seria porque em Castela se designavam por genoveses todos os estrangeiros?

Sem comentários: